Na minha primeira piscina quase me afoguei (para ser dramático) mas assim aprendi a nadar diante de meu pai. Foi na piscina do Londrina Esporte Clube, quando ainda revestida apenas de cimento, lá por 1955. Eu devia ter uns cinco anos, pois mesmo no raso mal dava pé. Mas me aventurava, agarrando pelas beiradas, querendo acompanhar as brincadeiras dos moleques maiores - que sempre deixavam o menorzinho para trás, então me zanguei e fui brincar sozinho.

Na parte mais funda do raso, havia um tronco deitado à flor da água, apoiado em pilares também de eucalipto, a alguns metros da beirada, para nadadores aprendizes se agarrarem. Um menino chegou a meu lado, deu impulso com os pés na beirada e vum, foi até o tronco.

Meu diabinho falou: vai, você também consegue! O anjinho falou: será? Mas nas tentações o diabinho sempre vencia, então dei um forte impulso e me lancei naquela grande aventura de uns poucos metros. E me agarrei ao tronco, descobrindo que o eucalipto na água ficava escorregadio.

Domingos Pellegrini pai
Domingos Pellegrini pai | Foto: Arquivo pessoal

Então me voltei para gritar ao pai, queria mostrar minha façanha, mas vi que ele já estava sentado ali na beirada me olhando, com as pernas na água e sua calma de sempre. Muito bem, ele falou, agora só falta voltar – e eu já ia fazer isso quando ele falou: cuidado, tem de dar impulso no esteio.

Fui pelo tronco escorregadio, abraçando, até sentir nos pés um de seus dois esteios, também bem escorregadio. Meu pai olhava com meio sorriso. Dei impulso forte mas foi fraco porque um pé escorregou e, de repente, me vi bracejando, engolindo água, bracejando mais e engolindo mais água.

Mas estava a apenas metro ou menos da beirada, no entanto tão distante, descobrindo também que bater as pernas ajudava. Toquei a parede, entre as pernas do pai, me agarrei na beirada e ele sorriu, disse muito bem, você conseguiu!

Vi então que, se ele tivesse esticado uma perna, eu teria agarrado antes de chegar à beirada, não teria engolido tanta água. Mas ele disse que eu merecia um prêmio, e na lanchonete me deu uma sodinha com coxinha. Depois voltei para a piscina e, em vez de ir até o tronco partindo da beirada, me pinchei na água como faziam os meninos maiores, e, quando lá cheguei, procurei por ele e continuava lá na lanchonete, olhando e sorrindo como a mostrar que confiava em mim.

Em casa, disse apenas que eu tinha aprendido a nadar, e minha mãe perguntou: aprendeu com quem? E ele, com seu meio sorriso, disse que eu tinha aprendido do mesmo jeito que ele, só que em piscina em vez de rio.

Vida afora, meu pai seria o mesmo da piscina, me deixando aventurar mas sempre pronto a me receber sorrindo. Não era super-protetor como minha mãe, nem seu orgulho de mim se mostrava exigente de mais façanhas. Me deixou sempre nadar na vida até onde eu quis, estimulando com seu meio sorriso que, ao mesmo tempo, parecia alertar para os cuidados com as aventuras. Eu teria engolido muito mais água pela vida sem o meio sorriso de meu pai, desde então tatuado aqui no coração.