Imagem ilustrativa da imagem Tatuagem no coração: A primeira namorada

Foi no tempo em que elas, moças desabrochando, no cinema sentavam deixando assento vago ao lado. Pretendentes chegavam perguntando se podiam sentar e elas respondiam com simples sim ou não, sempre porém respeitado. Já tínhamos trocado olhares e até meios sorrisos, mas meu coração bombava quando semi-apagaram as luzes; então na tela passava propaganda e aquela meia luz era a última chance de chegar e perguntar – Posso? - e, se ela dissesse não, me afastar sem dar demais na vista.

Mas ela disse sim e ainda sorriu, aí sentei e foi a primeira ver que deixei de ler os letreiros de um filme, sentindo o cotovelo dela no meu cotovelo.

Depois com meu dedinho toquei seu dedinho, e dedo a dedo, conforme as sequências do filme, meus dedos foram entrando nos seus, até que sua mão ficou debaixo da minha. Bombas na tela, bombas no coração.

Lá pelas tantas, ela tirou a mão para falar com a amiga ao lado, mas logo voltou pegando minha mão, a dela por cima! Ela me queria, bradava o coração, e então foi uma orgia de mãos, um festival de dedos.

Perdi batalhas na tela porém meus dedos - da mão direita - viveram seus melhores momentos na vida até então.

Mas a paz se fez na tela, acendeu a luz e ela tirou a mão. Era no tempo em que cinema era no centro e se podia ir a pé para casa, e fui indo com elas. A amiga ficou uma quadra antes, e diante da casa dela tinha um muro coberto de hera e uma árvore que encobria a luz do poste.

Perguntei o telefone, ela falou e perguntou se eu não ia esquecer, falei o número, ela sorriu, aí peguei suas mãos e puxei e ela veio abrindo os lábios, como no cinema. Então descobri o que não se vê no cinema, que beijo não é só dos lábios, é também e principalmente das línguas! Eu tinha dezessete anos e ainda não sabia disso, até pensei se assim ela não sentiria meu coração saindo pela boca.

O coração foi até esquecido devido às línguas, até ela falar que era hora de entrar. Perguntou o número do telefone, falei, quis mais um beijo mas ela falou não, fica pra próxima vez, e entrou e deu com a mão, meu coração batendo leve com as estrelas.

Depois namoramos de beijar muito, abraçar forte e até pegar certas partes, mas o namoro só durou três meses. Não era muito nem pouco comparado aos tantos namoros começados no cinema, embora alguns tenham durado para sempre, hoje sei de casos começados no jardim de infância chegando às bodas de ouro.

Dela não esqueci o olhar apaixonado e a pinta na bochecha, quando a gente ficava em banco de jardim de mãos dadas olhando nos olhos e dizendo te amo, também te amo, que nem no cinema. Porém esqueci, porque cheiro a memória perde, o cheiro de sua nuca que até me tonteava nos abraços, mas sempre lembro que seus cabelos caíam nos olhos e ela dava um soprão pra cima.

Mas esqueci seu nome, só lembro que tinha cinco letras porque cinco são os dedos da mão. O coração porém não esqueceu que, no encontro das mãos, bombou mais então mais que em qualquer batalha na tela.