O socialismo puro sempre fracassou por falta de liberdade, o que na economia é um desastre, só o Estado podendo tomar iniciativas e ter empresas, com toda a inépcia, burocracia e corrupção oficialmente usuais.

O capitalismo puro nunca houve, basta pensar o que seria uma sociedade onde o dinheiro e o lucro fossem totalmente livres de leis e normas.

Mas a social-democracia, que seria a receita alternativa entre esses sistemas, também não funciona bem sempre, com recaídas populistas ou autoritárias.

O único sistema que se vê funcionando mais e melhor parece ser o cooperativismo, presente em todos os países. No Paraná, as cooperativas de todo tipo produz 20% do PIB; na Alemanha, mais de 50%. São 2,56 milhões de cooperativas no mundo, com 250 milhões de empregos ou 1,2 bilhão de dependentes. Na China, 90% do crédito agrícola é operado por cooperativas de crédito. No Japão, o cooperativismo produz 92% da alimentação. Na terra do capitalismo, EUA, há 100 milhões de cooperados, 6 em cada 10 fazendeiros, e no Brasil o cooperativismo produz 48% do PIB agrícola, e o maior sistema cooperativo de saúde está aqui.

Ao contrário do que acontece com os sistemas políticos, as cooperativas aprendem com seus fracassos. Cooperativas gigantes quebraram mas isso gerou controladoria mais eficiente e um seguro mútuo para tropeços financeiros, por isso não se vê mais cooperativas quebrando (e batamos três vezes na madeira).

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O cooperativismo porém pode até se agigantar mas só dará certo se os cooperados gostarem de trabalhar, e também se tiverem tanta individualidade quanto civilidade. Ninguém é patrão de ninguém, todo mundo é alguém que co-opera com todos. E todo cooperado pode se tornar dirigente, bastando se candidatar e ter votos para se eleger, sem horário gratuito eleitoral nem fundo partidário ou qualquer ajuda oficial.

Na cidade e no campo, principalmente na segunda metade do século passado, o cooperativismo uniu imigrantes e brasileiros natos em cooperativas criadas por alemães, japoneses, poloneses, holandeses, italianos e outros, funcionando conforme as regras direitos-deveres e dar-receber. Depois, o cooperativismo de crédito uniu empresários e investidores, dinamizando as economias regionais. E temos o maior sistema cooperativo de saúde do mundo.

Cooperação é a mais antiga invenção, e já nosso corpo é uma cooperação de órgãos, onde tudo vai bem para todos enquanto cada um faz seu serviço. Os dedos colaboram entre si, como fazem as mãos e os braços, como toda cadeia produtiva é uma cooperação de técnicas e trabalhadores, empresários e empregados, e esse “co” significa ao lado de. O cooperativismo não é um sistema político, é social.

Até em casa tem cooperação, na forma de casamento. Vivo em cooperação doméstica , dividindo as tarefas do dia a dia com minha mulher.

Acredito que o cooperativismo profundo, que desde a primeira caçada impregnamos em nosso DNA, nos salvará das ilusões ideológicas e das ciladas políticas.

Novamente lembrando aquele poema de Robert Frost, sobre se o mundo acabará em gelo ou em fogo, prefiro crer que o mundo se salvará com cooperativismo.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.