Na foto estou aos doze anos, fardado após desfilar no Sete de Setembro. Depois também me fardei no Tiro de Guerra em 1968, ao mesmo tempo em que esperava ser chamado para virar guerrilheiro, militante de um dos tantos partidinhos comunistas que pregavam a luta armada para derrubar a ditadura militar, coisa que as urnas é que fariam. Não sei se rio ou choro lembrando que estive disposto a matar ou morrer, não só lutando contra a ditadura mas, também e principalmente, por uma posterior ditadura comunista “do proletariado”.

O tempo ensinou que gente muda, crenças passam e o que é mais importante, mesmo e sempre, é respeito a todas as pessoas.

Também o tempo mostrou, em mais de meio século de atenção ao mundo, que todo caminho aberto com força, violência ou desrespeito não funciona e não perdura.

Querer “intervenção militar já”, por exemplo, é esquecer que os militares já estiveram no poder, que entregaram por não conseguirem administrar a complexidade de uma nação.

Já os golpes ou mesmo atentados, militares ou civis, podem jogar um país em guerra civil, basta lembrar que a Primeira Guerra Mundial, com seus nove milhões de mortos, começou com um atentado.

Nossa Revolução de 1932 foi deflagrada pela morte de quatro paulistanos num protesto de rua. A causa da revolução já estava no ar, o descontentamento de São Paulo com a ditadura getulista, bastava uma faísca para a explosão.

A polarização política cria o ambiente propício para transformar os chamados distúrbios civis em guerra civil. Os primeiros mortos são transformados em mártires, açulando o ódio e animando a vingança, com o que o conflito mais cresce, podendo a violência passar a comandar a política, como no nazismo alemão.

Imagem ilustrativa da imagem Sete de setembro: data a se lembrar desde a infância
| Foto: Arquivo familiar

Com seu líder carismático Plínio Salgado, o Movimento Integralista do Brasil, na década de 1930, teve centenas de milhares de militantes em todo o país, e também era chegado a intensas comemorações cívicas.

Tentaram golpe de Estado, assaltando o Palácio do Catete da Presidência da República, foram rechaçados e o integralismo acabou se dissolvendo em isolamento e frustração.

Este ano, nosso Sete de Setembro tem os ingredientes para transformar faíscas em explosões, duas crenças semelhantes em líderes carismáticos com soluções simples para tudo, além da mesma simpatia por ditaduras de esquerda um e de direita outro.

Para não fazer faíscas no ar carregado de ódio, é preciso não fazer nem responder provocações, como também não se achar tão importante que se disponha a ser mártir, arriscando-se a morrer porque disposto a matar. As ruas são artérias vitais para a democracia, que sempre precisa de puxões de orelha públicos, mas também podem ser caminho para ditaduras – que invariavelmente, depois de instaladas, passam a trair os próprios princípios para se dedicar ao gozo e permanência no poder. Democracia pra valer começa nas associações de pais e mestres, com as escolas preparando cidadãos, e na formação de partidos realmente sociais e não dominados por grupelhos como temos hoje. Mas isso não é coisa tão fácil de fazer como ir para as ruas.

Esperemos que os revolucionários fervorosos, como também os patriotas ardentes, que forem para as ruas no Sete de Setembro, não provoquem os deuses da guerra, que não são civis nem militares mas conseguem desencadear consequências imprevisíveis e incontroláveis. Esperemos que o Sete de Setembro continue sendo de ninguém e de todos, por ser do Brasil.