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. | Foto: Dalva Vidotte/ Divulgação

Na terra vermelha temos calor no inverno já em agosto, o “mês de cachorro louco”. Menino me intriguei: porque mês de cachorro louco? Alguém explicou: com tanto sol na cabeça, os cachorros ficavam loucos.

Acreditei nisso até agora, quando perguntei a tio Goo e quem diria: com calor do sol sem nuvens e a secura do ar em agosto, muitas cachorras entram no cio, com seus cheiros que transtornam os cachorros, pois passam então a brigar por elas, loucos sim, mas loucos de paixão.

E não é que quase em agosto veio uma geada das bravas? Ainda não tínhamos podado todas as plantas ressecadas pela geada outonal de mês atrás, e eis que voltamos a cobrir as plantas contra o sereno congelante.

Dá uma dó danada ver marrons os galhos antes verdinhos, ouvir o crepitar das folhas nos pés. Não são folhas caídas de velhice, molengas, são folhas que sofreram o susto do congelamento e ressecaram, como se feitas de fino biju, e assim secamente estralam nos dedos, crepitam quando pisadas. São o som das geadas.

Olhando pela janela, pergunto se ano que vem nosso quintal voltará a enverdecer, Dalva diz que já neste ano:

- Depois de geada sempre vem primavera linda! E o que foi podado vai rebrotar com mais força!

O país também já vem primaverando, depois do longo inverno da pandemia. Já podemos antever que um dia tantos estarão vacinados que os cinemas e teatros estarão de volta e os estádios voltarão a encher, embora o vírus certamente continuará a circular nos ônibus, também como sempre cheios, e porque uma minoria não se vacinará. Quem tem familiares ou amigos recusadores de vacina sabe que para isso se apegam ao mais nobre dos princípios republicanos, a liberdade, esquecendo que, no caso, sabotam o princípio-mãe, a comunidade.

Tem até quem diz que não se vacinará por ser conservador, como se a vacina fosse liberal; e, em nome de uma crença pessoal, estará conservando, isto sim, o vírus, perpetuando para todos as restrições e cuidados sanitários. Consolo triste será saber que, então, só essa minoria estará totalmente indefesa ao vírus.

Disse Drummond que de tudo fica um pouco, e da pan já dá para prever que ficará muito, além do vírus levado pelos conservadores como uma tocha anti-olímpica. Depois de tempo, uma árvore rebrotada até parecerá a mesma árvore, mas na galharia será outra. Na árvore da economia, os galhos sobreviventes são as empresas resilientes, a rebrotar, e as novas folhas são as pessoas, empregados e empregadores, autônomos e servidores que tiveram seus trabalhos e sua vida reciclados e transformados. E realmente vamos vendo, nessas empresas e pessoas, o mesmo vigor redobrado das plantas pós-geada.

Mas um amigo tão confiante na Humanidade quanto desconfiado das pessoas diz que tudo será melhor se não repetirmos velhos erros, como desequilíbrio fiscal, deseducação financeira, populismo político, burocratice, ilusões autoritárias ou revolucionárias. Ou: primaveremos já, mas com modos.

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Os artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina.

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