Na panela da vida há momentos pipoca e temporadas piruá...

Meus momentos mais pipoca foram quando, menino, ouvia tia Ana contar histórias de fadas, princesas e assombrações, o Lobisomem, o Saci Pererê, o Fantasma da Encruzilhada, depois escovava os dentes com medo das sombras e ia dormir cobrindo a cabeça.

No mercado, dizem que agora aumentou muito o consumo de pipoca: é a panpipoca, feita até pela falta do que fazer. E tio Goo conta que a pipoca é o mais antigo dos milhos, começou há milhares de anos no México e foi plantada também pelos incas e tribos da América do Norte.

Por isso a palavra pipoca vem do Inglês “popcorn”, “milho estourado”, fosse nas pedras ou na areia aquecidas. Pipocas então não eram só para comer mas também para, nas festas, enfeitar os cabelos das mulheres. E depois a pipoca teve uma História com lições de inovação e empreendedorismo!

No século 19, passou das cozinhas domésticas para feiras e parques, até alguém botar rodas nos carrinhos para vender pelas ruas, com buzina anunciando a passagem do pipoqueiro marqueteiro. Depois, os carrinhos aumentaram até virar trailers, tornando a pipoca a avó dos food-trucks.

No começo do século 20, os pipoqueiros foram para diante dos iniciantes cinemas, que quiseram afastar os pipoqueiros, os piruás jogados no piso atraíam ratos. Mas um cinema colocou carrinho na sala de espera, descobrindo que podia ganhar com as pipocas tanto ou mais que com os filmes, assim a pipoca foi também pioneira dos food-cines de hoje.

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. | Foto: iStock

Na pobreza da Grande Depressão o consumo de pipoca aumentou, como fonte barata de proteínas, e seu cultivo arrimou muitos agricultores quebrados. A pipoca ganhou respeito como alimento.

Depois da Segunda Guerra, com a tevê, o consumo caiu mas voltou a subir porque passamos a ver também tevê comendo pipoca. A partir de 1981, então, o consumo explodiu com o forno micro-ondas, e hoje temos até pipoca premium, light etc. O Brasil é o segundo maior consumidor e produtor mundial, com 220 mil toneladas/ano: a pipoca é uma senhora agro-industrial até com seu Dia da Pipoca a 11 de março.

Agora estamos passando por temporada piruá, dolorosa na saúde, desastrosa na economia e caprichosa na política, dura de mastigar e difícil de engolir.

Mas vó Tiana dizia “pipoca dá piruá quando tá velha ou foi mal feita”, quando não as duas coisas. Diante de tanta velharia nas instituições e nos costumes, nos poderes públicos e nos quereres particulares, nas indústrias antigas e no comércio decadente, nas escolas e nos serviços incompetentes, na corrupção explorando até a pandemia, vemos que realmente precisamos renovar o milho e fazer a pipoca bem feita.