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. | Foto: Detalhe da pintura de Michelangelo na Capela Sistina/ iStock

Existe um fogo que nunca se apaga

e entretanto nada precisa queimar.

Passa de um a outro pelo olhar

e vem de dentro e se mostra nas mãos.

...

Mãos que se encontram e se cuidam.

Mãos com ferramentas ou canetas.

Mãos que ajudam, mãos que dão,

mãos que se negam a apontar culpas,

mãos que acariciam crianças e velhos,

mãos que costuram entendimentos,

mãos que cozinham com gosto,

mãos que sovam bem sovado o pão,

mãos que lavam louça alegremente,

mãos que massageiam sentimentos,

mãos que plantam flores para todos,

descascam frutos para os outros,

fazem com amor silenciosamente

tudo que é preciso que se faça

e nunca se rendem ao desconsolo,

mãos que quando se cruzam no colo

é por canseira, não desesperança.

...

É um fogo feito também de palavras.

Palavras boas faladas com amor.

Palavras que ensinam e consolam.

Palavras que compreendem e perdoam

depois de perguntar e de ouvir bem.

Palavras faladas olhando nos olhos.

Palavras escritas com o coração

e que quase se pode pegar na mão.

Palavras que movem gente para frente,

palavras que procuram aclarar caminho,

palavras que encurtam a distância entre

pessoas e cidades e povos e continentes.

...

É um fogo que também acende as artes,

e canta, dança, toca, pinta e borda,

e joga todos os jogos e esportes,

sempre ganhando todos campeonatos,

sempre torcendo pra que não se apague

esse fogo pai de todos os fogos.

...

É um fogo que apenasmente apaga

quando alguém desiste ou vai embora

mas os que ficam continuam logo

a manter sempre aceso esse fogo.

As suas cinzas chamam-se História,

a sua lenha chamamos de tempo,

a sua luz nós chamamos de alma

e só é vista lá dentro dos olhos.