Num grupo de zap, um avô diz que no seu tempo os perigos estavam fora de casa, nas ruas, no escurinho do cinema, nas praças, e hoje o perigo está dentro de casa nas mãos dos netos. Pornografia, por exemplo, chegava aos meninos por revistinhas que desmanchavam de tanto passar de mão em mão, mas, hoje, pornografia está na mão de qualquer criancinha com celular.

Outro posta que pode ser pior, pornografia sequestra só a cabeça, mas agora existe o sequestro virtual. Conta que atendeu ligação da neta chorosa dizendo me salva, vô, me salva – e outra voz já foi falando que ela estava sequestrada, ela gritando no fundo. E era uma voz igualzinha a da neta, e ele já estava pronto para pagar resgate, quando lembrou que a neta estava no quarto ao lado...

Tem até pornografia ao vivo, informa outro, pornô-live, que ele mesmo nunca viu, claro, ouviu falar. Uma avó lembra de mocinha ver fotonovelas em revistas, depois adulta viu muitas novelas na tevê e, agora, as netas querem é namorar com a telinha. Como assim, pergunta alguém, ela responde que é o namoro em que o corpo da moça fica junto do corpo do moço mas as cabeças estão longe, cada um com sua telinha...

Imagem ilustrativa da imagem O clube dos avós

Kkk, kkk, depois outro avô lembra do que porém falou um neto, ainda menino, quando ele estipulou que celular na casa do vô seria só duas horas por dia. Não, o guri bateu pé, se não lidasse bem com celular, não ia conseguir trabalho quando crescesse. Pra gente se dar bem na vida, vô, o guri garantiu, tem de ser tec!

Tec? Sim, o avô esclarece, lidar com celular e aplicativos e tec-etc. Aí uma avó posta que bom seria se o tal deus Tec não fizesse mal pro corpo. Sim, pois seu neto ficou tanto com o nariz enfiado no celular que teve dores na nuca, o ortopedista falou que é uma nevralgia ou coisa que o valha cervical – e contou que o filho dele também tem a mesma coisa...

Pior é meu neto, diz outro, começou a enxergar mal, o oftalmologista disse que não é miopia nem astigmatismo, é coisa causada por celular. Já o meu, conta outra, ganhou apelido de Notre Dame na escola, porque com doze anos já tem CC, corcunda de celular. E minha neta adolescente, conta um terceiro, levanta de noite pra ir ao banheiro, e visita a geladeira, até que desconfiamos, ela tem insônia de celular! É, explica, a insônia de continuar ligada no celular, pronta pra atender.

Melhor que o meu, diz aquela avó: perguntou se o neto queria continuar corcunda, ele respondeu que não via problema nisso, “até tá virando moda, vó”. E eu não duvido, diz alguém, se calça rasgada virou moda... Já eu fico pensando, diz outro, será que as fábricas tem máquina pra rasgar calças ou isso é feito à mão?

Kkkk, kkk, kkk, depois um posta que “em nossa casa, estamos proibindo celular nas refeições e no quarto”. No banheiro pode, né? – alguém provoca, informando que já há celulares à prova dágua, e recebe variados emojis. Daí alguém posta audio dizendo que porém, contudo e todavia, devemos também agradecer às tecs por tornar possível o Clube dos Avós. É verdade, concordam todos, e emojis batem palmas.