Para os pets, a quarentena está sendo uma ótima temporada: passam mais tempo com as pessoas, ganhando mais atenção, alguns até passeiam mais – pois se antes levava-se o cachorro para passear, agora os cachorros são pretexto para muita gente poder passear.

Branquinha começa a rodopiar e saltar mal começo a calçar os tênis para passear. Lua, nossa gatinha (foto), fica olhando como quem se pergunta porque tanta emoção pois, já desde filhote de pouco meses, aventura-se pela vizinhança a caçar ratos por esporte e passarinhos para comer.

Aqui em casa, “brigar que nem cachorro e gato” é expressão desconforme a realidade, pois Branquinha e Lua se entenderam desde o primeiro encontro. Colocamos a gatinha diante da cachorra e elas ficaram se olhando imóveis a esperar uma da outra o primeiro golpe, Branquinha começando a eriçar o lombo, Lua a se curvar abrindo os bigodes.

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. | Foto: Dalva Vidotte/ Divulgação

Temi um confronto, pois já vi gato fazer cachorro ganir com unhada no focinho, como vi cachorro abocanhar e destroncar gato em segundos. Vi na rua brigas sangrentas de cachorros, como também, rapazola, ouvi gatos brigando tanto no telhado que minha mãe quis jogar água quente. Mas a tia-avó Mazica disse não, jogasse água fria para os bichinhos de Deus irem embora sem sofrer...

Então ali, diante da cachorra ciumenta e da gata recém chegada, eu pensava que, se gatos com gatos e cachorros com cachorros brigam tanto, como seria uma briga de gato e cachorro? A expressão não deve existir à toa e, além disso, o cartel das contentoras não era desprezível. Branquinha foi cachorra de rua, foi atropelada prenha, recolhida e operada, depois pariu uma ninhada de seis, que amamentou direitinho e continuou atlética que só. Já Lua nasceu em sítio, desde filhotinha afiando garras e presas em caçadas.

Antes entretanto que tivessem tempo para um primeiro golpe, acariciei Branquinha, Dalva acarinhou Lua e falamos com voz amiga que são amigas, e que sempre serão amadas igualmente, e aqui viverão em paz e carinho, e seus lombos foram baixando. Branquinha então se adiantou para farejar Lua, que nem fugiu nem se defendeu, apenas se afastou com felina elegância.

A partir daí, fizeram uma dança de farejos e sondagens, afastamentos e procuras, até chegarem a uma convivência com paciência canina e felina graça. Branquinha de vez em quando até arrisca uma lambida no lombo de Lua, que devolve com patadinha carinhosa no focinho da amiga.

Parecem nos dizer que o maior desafio, nesta quarentena de muito mais de 40 dias, não é manter o isolamento, é melhorar a convivência, praticando os exercícios relacionais: ouvir com compreensão, falar com carinho, pedir em vez de mandar, perguntar em vez de julgar, conversar para resolver...

Além disso, como disse Tia Mazica, melhor sempre será resolver problema sem fazer sofrer, como sair do isolamento sem passar para o relaxamento, já que uma segunda onda de contágios poderá ser muito mais desastrosa. E também, claro, buscar soluções na cooperação, como fazem até os pets bem educados.