Mamão não combina com cebola mas, para descascar o mamão, deparo com o adesivo do Cebolinha. Lembro então do cartunista Maurício contando em entrevista que, numa empresa de comércio de frutas, viu as maçãs pequenas descartadas porque “ninguém quer maçãzinhas”. Mas Maurício pensou que crianças podem sim gostar de maçãzinhas, e surgiram então as maçãs “da Mônica”, em sacos plásticos, e depois surgiram os mamões “do Cebolinha” com seus adesivos.

Bela ideia do Maurício, estimulando as crianças a comer frutas e otimizando sua produção e comércio. Mas quem dá bom destino ao lixo orgânico tem de tirar de cada fruta o adesivo não degradável. Se uma guerra atômica destruir nosso mundo, ETs ainda poderão depois fuçar os escombros e se perguntar porque, porque botavam rótulos até nas frutas?

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. | Foto: iStock

Nosso descaso com o lixo começa nas pequenas embalagens e mostra sua imensidão nos lixões urbanos, que os menores municípios já não tem onde instalar por falta de terra para receber tal flagelo. E pior é saber que, além de preciosa terra inutilizada, o flagelo se estende por lençóis freáticos envenenados, riachos e rios contaminados. Essa água poluída encontra um mar mais e mais cheio de plásticos, a se fragmentar tanto que estarão de volta para nós nos peixes do mercado...

O poeta Robert Frost, perguntando-se se o mundo acabará em fogo ou gelo, respondeu acreditar que o mundo acabará em ódio. Mas tudo indica que, se continuar assim, acabaremos em lixo - graças a nossas sociedades industriais em que tudo é tão embalado. Como os bombons que comprei um dia e tinham: um laço de fita envolvendo a caixa de papel grosso, por sua vez envolvida por papel não degradável, com os bombons embrulhados em papel celofane e papel alumínio, talvez com o custo de tanta embalagem maior que o custo do produto.

Quem ainda viveu naquele mundo sem supermercados, nos armazéns e vendas de então via o arroz e o feijão expostos em sacas, para cada comprador pegar sua porção e ensacar em papel. E hoje vemos que é em sacos de papel que cada pessoa sai do supermercado com suas compras... nos filmes do Primeiro Mundo. Aqui, os brasileiros usam 15 bilhões de sacolas plásticas por ano para levar suas compras para casa.

Na Copa do Mundo no Brasil, vimos espantados como os japoneses se retiravam dos estádios só depois de coletar todo o lixo das arquibancadas. No super industrializado Japão, quase 100% dos plásticos são reciclados, porém boa parte é queimada para produzir energia... e também aquecimento global, evidenciando quão complexo é o problema do lixo. Além de educação ambiental, o mundo precisará de alternativas para reciclagem ou produção industrial sem tantas embalagens, se não quisermos acabar em lixo, como preveem os cientistas que sempre não são levados a sério até que a água dos desastres nos chega na nuca.

O pessimista diz que a História é uma sequência de desastres, o otimista diz que é uma sequência de desafios vencidos. Vamos torcer pelo otimista.

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