Roberto Ramos Cotrim, jornaleiro que na Avenida do Café toca uma das últimas bancas de rua em Londrina
Roberto Ramos Cotrim, jornaleiro que na Avenida do Café toca uma das últimas bancas de rua em Londrina | Foto: Arquivo pessoal

Sobrevalente é palavra que crio, para quem não só não se deixa vencer como se vale das crises e desafios - como Roberto Ramos Cotrim, jornaleiro que na Avenida do Café toca uma das últimas bancas de rua em Londrina. Tivemos bancas inesquecíveis, e umas poucas continuam embutidas no comércio aqui e ali, a do Roberto é na frente de supermercado. Abre às sete da manhã e fecha às sete da noite, vendendo poucos jornais e revistas, mas muita coisa mais.

Já experiente no ramo, ele comprou a Banca Cambará há seis anos, quando já se via bem que não seriam mais bom negócio bancas de jornais e revistas, mas, diz Roberto, “isto é menos de vinte por cento do que a banca rende hoje”. Ele acha que é assim porque “antes, a gente via na tevê a notícia e no dia seguinte ia comprovar no jornal, hoje tá tudo no celular”. Ele viu os jornais e revistas “afinando, conforme ia faltando publicidade, e muitos morrendo por falta de leitores”. Por isso, são poucos os jornais na banca, e as revistas que se vê são sobre tevê e seus famosos, mas revistinhas há muitas, de quadrinhos, de loteria, de palavras cruzadas, de horóscopo, de jogos, de entretenimento, revistinhas a rodo. Entretanto as revistas eróticas sumiram, porque também “tá tudo no celular”.

Feito trincheira na luta diária, o balcão de atendimento, de metro apenas, resiste a qualquer crise oferecendo na sua pequena vitrine desde paçoquinhas a acessórios e peças de celular, facas artesanais e sorteios de raspadinha, chips e pilhas, tantas pequenices e miudezas que crescem quando a gente precisa delas e não tem, mas a banca tem. E a gente do bairro tem a banca pra desde deixar recado até imprimir por exemplo um atestado. Você fotografa por zap, envia, ele imprime e te manda de volta de moto, pagamento pix e pronto.

A banca também presta serviços, desde recarga de celular a informações de endereços e pessoas da vizinhança, até porque Roberto trata seus clientes pelo nome.

Quem quiser enriquecer da noite para o dia também pode se servir da banca, pois vende bolões de loteria não só para o bairro nem apenas para a cidade, mas para clientela cadastrada da região. Quando Roberto comprou a banca, ela nem telefone fixo tinha, mas hoje é tudo tão tec que, ele calcula, sem o zap, perderia o grosso do faturamento.

Nisso, chega alguém querendo consertar celular, sim, ele conserta. Aprendeu “assuntando, perguntando, mexendo, querendo, né, pra aprender é preciso querer”.

Aprendeu principalmente que é preciso estar “antenado em tudo na telinha, porque é na telinha que tudo passa”.

Ele carregou pilhas do jornal "O Estado de S. Paulo", o Estadão, que “domingo chegava a meio palmo de grossura, com vários cadernos de classificados”, e hoje “na telinha a gente pode comprar o que quiser em qualquer parte do mundo com fotos e avaliações do produto”. Pra sobrevaler entre tantas mudanças, Roberto foi mudando tanto que “hoje nem sei o que sou, porque jornaleiro é o que menos sou aqui, vendendo e fazendo tanta coisa, mas sei que dá certo”.

Você é um sobrevalente, Roberto.