Desde a caverna os homens sempre estiveram no poder, mas da porta de casa para dentro elas também sempre mantiveram sua cota de comando, a julgar pelas nossas avós e mães. Mas agora passou da hora de homem, que é homem, reconhecer que é não só irreversível como é melhor elas co-mandarem também da porta para fora.

O feminismo completa a Humanidade, embora nascido de coisa tão masculina como é a guerra. Pois foi na Segunda Guerra que as mulheres começaram a se empoderar em massa, substituindo nas fábricas os homens convocados. Agora a epidemia de feminicídios parece a face mais evidente de uma guerra de costumes, os velhos machistas (seja que idade tenham) contra as novas mulheres.

Essa luta pela desmachização precisa de patronas, já que os movimentos requerem heróis para animar os corações. Rapazola leitor de bibliotecas, desde então tenho com gosto e orgulho quatro heroínas, duas delas brasileiras.

Madame Curie desde menina lutou contra as restrições do preconceito, para se tornar duas vezes ganhadora do Prêmio Nobel (Física e Química). Já aclamada mundialmente, na Primeira Guerra foi às frentes de batalha instalar Raio-X para atender os feridos, e depois morreria de leucemia causada pela radioatividade, palavra que criou.

Outra lutadora, está de fuzil nas mãos, foi Maria Quitéria, nossa Joana D'Arc, que aos 29 anos fugiu da fazenda dos pais, na Bahia, para se alistar em batalhão de voluntários pela Independência do Brasil. Para isso teve de se vestir de homem mas acabou reconhecida como primeira mulher nas nossas Forças Armadas, depois de mostrar bravura em três combates diretos, e receberia a Ordem Imperial do Cruzeiro das mãos de Dom Pedro I.

No palácio, Quitéria conheceu a imperatriz Maria Leopoldina, a heroína que descobri em biblioteca porque seu feito não aparecia e pouco aparece ainda nos livros escolares, apesar de ter feito mais pela Independência do que seu marido, pois foi quem a arquitetou com o ministro José Bonifácio. Como princesa regente, decretou a Independência e comunicou por carta ao marido que viajava de mula a São Paulo. Quando ele teria levantado a espada fazendo pose no riacho do Ipiranga, ela já tinha feito História com sua caneta e sua coragem.

A elas depois juntei outra heroína, negra e pacífica como só, Rosa Parks, que num ônibus sentou em lugar “só para brancos” e, intimada a sair dali, simplesmente disse “não”, começando a acabar com a segregação racial nos Estados Unidos.

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Aqui no Brasil é alentador ver, no noticiário sobre feminicídios, delegadas de polícia falando com firmeza de autoridade mas sem perder a graça feminina. É triste ver que cresce o número de feminicídios porque aumenta o número de mulheres que, sem querer desafiar os ex-companheiros, também não aceitam mais ser objetos passivos de paixão possessiva. E é confortador ver casais separados que se tratam como companheiros, como me disse um pedreiro tão forte quanto gentil:

- Vejo esses homens que batem em mulher e penso ué, não tiveram mãe?

Quero crer que será pelo exemplo de homens assim que a epidemia de feminicídios também passará.