José Richa
José Richa | Foto: Arquivo Folha

Neste domingo vamos votar, e o jovem dirá que novidade... Mas quem não é jovem sabe que não foi fácil chegar ao que hoje parece rotina. Historicamente então, é uma novela até bizarra.

No Brasil Colônia, as eleições eram só municipais e só podiam votar os chamados “homens bons”, sempre ricos ou nobres, que, como eleitores de província, elegiam um grupo de compromissionários (!) que elegiam comissão paroquial, que indicava afinal os eleitores da comarca, que faziam uma lista de nomes a serem enfim escolhidos (por sorteio!) para os cargos de juiz, vereador ou procurador...

No Brasil monárquico os eleitores, de no mínimo 25 anos, eram somente os “homens livres”, ou seja, de boa renda. Os eleitores escolhiam um grupo, que formava um grupo menor, que formava uma comissão que escolhia os deputados e senadores, estes em lista tríplice para escolha de um pelo Imperador, ufa. Era todo um sistema pró-elite - mas ex-escravos e analfabetos podiam votar!!!

Em 1880 a Lei Saraiva obrigou o eleitor a assinar seu nome, e eis que o eleitorado passa de 13% para 0,8% da população, mostrando que uma imensa parte do eleitorado era de votantes de cabresto...

Na República, já todo homem de 21 anos podia votar, menos os analfabetos, soldados rasos e mendigos, mas o voto não era secreto e as fraudes eram usuais e gerais que eleição era sinônimo de confusão.

Depois, como o Brasil gosta de ser complexo, foi numa ditadura, de Getúlio Vargas, que as mulheres passaram a ter o direito democrático do voto, em 1932.

Mas o voto universal e secreto semeou confiança e, em 1945, voltamos a ter mais de 13% da população eleitorada. Daí passamos para a chamada Quarta República, onde todos com mais 18 anos podiam votar, até a ditadura militar.

A ditadura começou tão prestigiada que se deu o luxo de permitir um partido de oposição, o Movimento Democrático Brasileiro, que hoje é exemplo de conveniência mas, então, tornou-se mesmo um partido de resistência, ajudando a gerar a Anistia e as Diretas Já, enquanto os militares se aliviavam de passar a batata quente. Quanta evolução!

O jovem acha que não? Porque não viu, como vi menino, uma eleição presidencial em que um candidato era um maluco bom de palanque, Jânio Quadros, contra um Adhemar de Barros cujo lema não oficial mas corrente era “rouba mas faz”. Nem o jovem viu seções eleitorais cercadas de cabos eleitorais, o chão forrado de santinhos, caminhões transportando eleitores para o churrasco depois do voto – ou a propaganda eleitoral na tevê apenas com fotos dos candidatos sem fala...

Os veteranos de voto sabem que a democracia não tem outro caminho a não ser continuar se democratizando, superando os desafios próprios da democracia, enquanto o Estado vai se pluralizando com conselhos, ONGs e parcerias. Sempre falta porém funcionar melhor, reformando o que funciona e descartando o que não funciona. Ou conforme José Richa:

- Nem avançamos demais nem de menos, mas o que pudemos.

Este domingo é dia de avançar.