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não sente nesta cadeira

nela minha mãe passou

suas tardes derradeiras

...

Pois gostava mais das tardes

achava as manhãs sem graça:

“A manhã é uma criança

cheia de atividade

já a tarde é mais tranquila

até a vila aquieta

e tem mais nuvem no céu

tem até mais borboleta”

...

É cadeira de balanço

mas ela mal balançava

o cão no meio dos pés

nas mãos a caneca dágua

...

Dizia de brincadeira

“balanço demais da conta

aqui na minha cadeira

chego até a ficar tonta”

...

Com voz de menina disse

“se a noite é a morte do dia

a tarde é a meia idade

a noitinha é a velhice”

...

E “a primeira estrelinha

é a que mais alumina

depois aparecem tantas

enjoo de tanta estrela

eu vou é pra minha cama

meu pijama de flanela”

...

E dava balançadinha

qual se a cadeira pensasse

e dizia “é de noitinha

que o diabo lança o laço”

...

Deitava logo e acordava

meio da noite - e então

procurava a cadeira

palmeando escuridão

...

Eram mais que companheiras

como a semente e o fruto

uma existia pra outra

a cadente a cadeira

...

“Só água é que mata sede”

um dia ela falou

“e só damos mais valor

naquilo que a gente perde”

...

“Não me chamem de idosa

prefiro velha porque

idosa é de dar dó

mas velhos todos vão ser”

...

E quando deitou na cama

para o sono derradeiro

falou vou sentir saudade

- Saudade de quem, mama?

- Saudade até da cadeira...

...

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