As palavras mais importantes têm uma só sílaba, são palavrinhas. Pode-se pensar em palavras muito importantes de duas ou mais sílabas, como Amor, Família, Povo, Nação, Democracia, mas todas foram geradas depois das primeiras palavras ou palavrinhas.

A própria língua nasceu do que chamamos de monossílabos - que, no começo, certamente eram pouco mais que grunhidos, sempre acompanhados de gestos, e assim nasceram Sim e Não, o primeiro casal de palavras.

Decerto Eu e Tu nasceram depois, enquanto Ele e Eles, talvez porque longe de Nós, já nasceram com duas sílabas.

Mãe e Pai devem ter nascido depois de Eu e Tu, claro, até para dar tempo do casal se conhecer e ter filhos.

Podemos até ver a Língua como pirâmide invertida, com as palavras maiores empilhadas sobre as menores, as bissilábicas sobre as monossilábicas, as trissilábicas sobre as bissilábicas, e assim por diante até as multissilábicas como insconstitucionalissimamente, que desde criança aprendemos ser a palavra mais comprida da Língua e, volta e meia, nos é relembrada pela política.

Avancemos pelo mundo das palavrinhas. Dia e Noite tem duas sílabas, mas o Sol, que faz o dia e a noite, é monossílabo como Luz.

E, por ser invisível, não nos esqueçamos do Ar, tão essencial e só com duas letras. A vida não existiria sem essa palavrinha, e, se entendermos o ar não só como oxigênio mas como Espaço, nada mais existiria sem essa palavrinha, pois onde iriam se colocar as galáxias?

Vamos em frente, ou melhor, para trás. Conforme fomos virando gente, talvez num tempo ainda de nossas primeiras fogueiras, a família monossilábica ganhou outro par de palavras, o Bem e o Mal, inimigos que só existem cada um devido ao outro, assim já expressando a complexidade humana, sempre entre Ser e Ter.

É preciso não esquecer que temos ainda a palavrinha Mar, onde começou a vida na Terra há bilhões de anos, como também temos o Mel, primeira das delícias, muitos milênios antes da invenção do açúcar.

Temos também a palavrinha Dor, que talvez por tanto doer inventou como explicação ou remédio a Fé, base das religiões e bandeira de tantas guerras.

Mas a família monossilábica não fica só nisso, cresce com as preposições e os advérbios, palavras tão pequenas quanto importantes. Basta pensar o que faríamos sem Lá e Cá, Já e Tão, Com e Sem, e até mesmo sem o E, que se aparenta tão desimportante mas lembremos do Gênesis: “No princípio, Deus criou o céu E a terra”.

Um simples E casa o céu, de onde nos vêm o sol e a chuva, e a terra, de onde nos vem tudo mais. Não poderíamos viver sem céu nem terra, e sem casar as coisas como água E farinha para gerar o Pão, outra palavrinha tão importante que significa a própria vida, tanto que dizemos ganhar o pão de cada dia.

O Gênesis também faz lembrar outra palavra de uma só sílaba, que o primeiro humano a pronunciar decerto estava diante de sua fogueira e das estrelas de sempre, querendo entender, querendo agradecer, maravilhado e estupefato, dizendo então a maior das palavras com apenas uma palavrinha: Deus.

Mais? Só. E fim.