Algumas heroínas desde o Império até a enfermagem e Olimpíadas
Maria Quitéria se vestiu de homem como Joana Darc e, com nome falso, alistou-se na revolta de militares e voluntários
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sábado, 03 de maio de 2025
Maria Quitéria se vestiu de homem como Joana Darc e, com nome falso, alistou-se na revolta de militares e voluntários
Domingos Pellegrini

No podcast Heróis e Vilões, da TV Tarobá e do professor Fabrício Carraro, falei de minhas heroínas. Começando com nossa Princesa Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, cunhada de Napoleão Bonaparte, culta e operante, obrigada a tolerar os maus modos e a infidelidade ostensiva de Dom Pedro I, o que não a impediu de se tornar, junto com José Bonifácio de Andrada, a principal articuladora da Independência do Brasil. Quando Dom Pedro ergueu a espada no Riacho do Ipiranga em São Paulo, no Rio de Janeiro ela não atendera o comandante militar português e, desde cinco dias antes e com apenas 24 anos, já agia como imperatriz regente (por pouco tempo, pois morreria quatro anos depois, de parto e desgosto). Nosso Sete de Setembro devia ser Dois de Setembro.
Mas era preciso lutar para expulsar as tropas portuguesas, principalmente na Bahia, onde o povo lutou até com foices e facões. Maria Quitéria se vestiu de homem como Joana Darc e, com nome falso, alistou-se na revolta de militares e voluntários. Seu disfarce foi descoberto só no primeiro combate, quando porém mostrou bravura bastante para continuar na tropa. Em mais combates chegou até à mais arriscada ação de infantaria, o assalto a trincheira, chegando a ser relatada como heroica por seu comandante. Como heroína de guerra conheceria a Princesa Leopoldina na corte; onde a historiadora Maria Graham anotou que a mestiça índio-português era “iletrada mas inteligente, com educação poderia ser pessoa notável” e “não é particularmente masculina na aparência, seus modos são gentis e alegres”. A primeira militar brasileira foi exemplo de coragem, eficiência e cidadania, pois ganharia apenas pensão de alferes sem quaisquer penduricalhos e privilégios.
Noutra guerra décadas depois, Florence Nightingale, chefiando a primeira turma de enfermeiras no mundo, num hospital de guerra insistiu que era preciso lavar tudo do chão ao teto. Ainda não se falava a palavra “higiene” e micróbios eram insuspeitados, tanto que os médicos protestaram contra aquele desperdício, até que logo baixou muito o número de mortos no hospital, e Florence criaria as normas e técnicas da enfermagem a que devemos tanto.
Devemos a Madame Curie a descoberta da radiatividade, que ela usou com pioneiros aparelhos para tratamento de feridos de guerra, assim mais se expondo à radiação que a mataria, depois de se tornar a única mulher com dois prêmios Nobel, de Física e de Química.
Wilma Randolph foi menina negra que teve catapora, escarlatina e pneumonia, antes de aos seis anos pegar poliomielite e ter de usar suporte na perna e, conforme os médicos, nunca mais andaria. Mas sua mãe, Blanche, passou a levar a filha a fisioterapia bi-semanal a 80 km de distância, e a lhe fazer quatro massagens por dia na perna, e um dia viu a filha jogando basquete com meninos na rua; como veria seu time colegial de basquete ser campeão estadual porque ela não errava cesta. Wilma corria tanto que acabou na seleção nacional de atletismo, e, nas Olimpíadas de 1956 ganhou medalha de ouro no revezamento, como em 1960 ganharia ouro nos cem metros, duzentos e revezamento. São duas heroínas, a filha super atleta e sua super mãe.

