Primeira vez que ouvi falar de meditação foi ainda lá nos anos 1970. Como todo ignorante do assunto, pensei logo que era coisa mística ou esotérica ou, enfim, algo ligado a outro mundo e, portanto, nada a ver comigo, enfronhado em jornalismo e publicidade que primam por lidar com as coisas deste mundo.

Dalva e o neto Pietro meditando em San Diego
Dalva e o neto Pietro meditando em San Diego | Foto: Paula Vidotte Mendes/ Divulgação

Continuei ignorante até conhecer Dalva, sabendo então que meditação é apenas nada pensar, esvaziar a cabeça, concentrar-se na respiração, focando atenção no ar a entrar e sair, pensando em nada em total relaxamento. Quando o cérebro descansa sem pensar, ela revelou, fica mais apto para pensar melhor, sentir melhor, intuir mais, até enxergar luz e caminhos no turbilhão que é nossa cabeça.

Logo descobri porém que é quase impossível pensar em nada. A cabeça humana é uma máquina incessante, a produzir mais de 50 mil pensamentos/dia, conforme alguns cientistas, enquanto para outros são apenas 6 mil, nos levando a pensar que podem estar falando de diferentes tipos de pensamentos ou serem diferentes tipos de cientistas... Certo é que, como para coçar é só começar, para pensar é só estar vivo e mesmo dormindo, pois que serão os sonhos serão pensamentos em forma de historietas?

Mas, assim como há quem não goste de massagem ou de caqui chocolate, não gostei de meditação. Dalva então me apresentou Osho, para quem os ocidentais tem uma predisposição natural para a agitação, ou seja, uma dificuldade até genética de aquietar corpo e mente. Ele criou então a meditação dinâmica, para a pessoa cansar e suar antes de dispensar a mente - ou melhor, entregar a mente ao vazio ou ao nada, talvez porque os resistentes vejam nisso uma antecedência da morte...

Mas nem mesmo a meditação dinâmica me encantou, como acontece com Dalva, que, se tem insônia, levanta, medita e depois volta a dormir como criança. Mas lembrei que desde rapazola faço a sesta, o cochilo depois do almoço que então aprimorei lendo "Os Quatro Gigantes da Alma", de Mira y Lopez, que recomenda cochilar imaginando (o que é um pensamento) os próprios olhos como esferas negras a vagar numa escuridão... até que o cochilo se confunde com a própria escuridão e eu tirava meu soninho reparador no meio do dia.

Depois porém, dispensei a sesta por um cochilo breve, assim aposentando as duas esferas negras e sua escuridão. E só agora, setentão, vim a desconfiar que simplesmente troquei aquele cochilo, de escura meditação, pela lavagem de louça. Todo dia lavo louça e é quando não penso em nada, dedicado a fazer apenas o que estou fazendo com todos os dedos e sem pensamentos.

Pois agora tive um surto de pressão alta e passei a monitorar, medindo a pressão várias vezes ao dia. Aí Dalva me diz para fazer uma meditação, mesmo breve, antes da medição – e, depois, eis que a pressão baixa para quase normal! Bem, não pretendo como Jesus meditar jejuando quarenta dias, mas, como os políticos que só fazem o certo pressionados, sob pressão alta vou passar a meditar além da pia da cozinha. Mas não é fácil: na primeira meditação, já pensei em escrever esta crônica...