O controle biológico natural vem sendo há milênios o principal aliado do agricultor contra pragas agrícolas. Posteriormente, a humanidade também descobriu que podemos multiplicar esses agentes de controle biológico e liberá-los nas lavouras, no que chamamos de controle biológico aplicado (ou aumentativo), muitas vezes até aumentando organismos benéficos já existentes em menor número no campo.

Essa ferramenta de manejo está se tornando cada vez mais popular entre os produtores agrícolas, mundo afora. Apenas no mercado brasileiro espera-se ultrapassar os 200 milhões de dólares comercializados no ano de 2021. O controle biológico aplicado (ou aumentativo) beneficia o agricultor, reduzindo o custo de produção pela menor utilização de inseticidas. Além disso, a natureza agradece pela redução no uso de agrotóxicos sintéticos, apoiando a preservação dos inimigos naturais das pragas e promovendo a maior sustentabilidade da produção agrícola.

Trichogramma spp. são vespinhas minúsculas (ao redor de 0,5 mm) que parasitam exclusivamente ovos de insetos, principalmente de lepidópteros (mariposas e borboletas). Ou seja, põem seus ovos sobre os ovos das mariposas que dariam origem às lagartas. Em julho de 2013, o uso de Trichogramma pretiosum foi registrado pelo Mapa como bioproduto para controle de Anticarsia gemmatalis (lagarta da soja) e Chrysodeixis includens (Lagarta falsa medideira), principais lagartas que atacam a cultura da soja.

Embora minúscula, uma única vespinha consegue parasitar entre 40 a 50 ovos de A. gemmatalis ou C. includens constituindo-se num dos mais importantes agentes de controle biológico na agricultura. Esses agentes de controle biológico são produzidos em laboratório e liberados na lavoura na fase de pupa, quando o agricultor detectar a presença de mariposas (fase adulta das lagartas) a caminho da oviposição. Nesta fase, são realizadas até três liberações de Trichogramma intercaladas entre 3 a 7 dias utilizando-se de pupas do parasitoide que podem estar em capsulas ou serem distribuídas avulsas no campo. A distribuição dessas pupas pode ser realizada manualmente em áreas pequenas ou com o auxílio de motocicletas ou drones em grandes áreas.

Considerando que Trichogramma só ataca os ovos das mariposas, as microvespas precisam parasitar esses ovos antes que eles eclodam. Uma vez parasitado pela vespinha, o ovo da mariposa serve de alimento para o desenvolvimento das larvas do parasitoide, resultando no nascimento de novas vespas benéficas, no lugar de lagartas-praga. Estas vespas já nascem prontas para parasitar novos ovos e assim dando continuidade à propagação do parasitoide, ao invés da praga.

Como esse parasitoide é um dos agentes de controle biológico mais estudados no mundo, ele é hoje utilizado globalmente em diferentes culturas e países. Apenas no Brasil, cerca de 2,2 milhões de hectares de cana-de-açúcar são tratados com Trichogramma galloi para controle da broca da cana. Além disso, o parasitoide é usado em outras culturas como a soja, o milho e o tomate, entre outras. O uso dessa ferramenta de manejo, dentro do conceito de manejo integrado de pragas, tem trazido excelentes resultados ao agricultor.

Importante lembrar que sendo um organismo vivo, a logística de armazenagem, distribuição e transporte do parasitoide é dificultada, o que constitui um desafio que deve ser sempre avaliado. Outro alerta importante no uso desse produto está relacionado com fato de o mesmo ser um agente biológico vivo; sendo assim, o uso de agrotóxicos não seletivos ao parasitoide devem ser evitados pelo menos 10 dias antes e uma semana depois de sua liberação em campo.

Amélio Dall’Agnol e Adeney Freitas Bueno, pesquisadores da Embrapa Soja