De acordo com estimativas divulgadas em meados de novembro de 2019 pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção de grãos no Brasil na temporada 2019/20 deverá alcançar um novo recorde: 246,4 milhões de toneladas (Mt) ante apenas 58 Mt em 1990. O estado do Mato Grosso impera entre os maiores produtores nacionais de grãos (67,4 Mt), seguido pelo Paraná (36,8 Mt), Rio Grande do Sul (35,3 Mt) e Goiás (24,6 Mt).

A maior área cultivada e quantidade produzida é de soja, que não para de crescer e não dá sinais de que poderá arrefecer no curto prazo, intuindo sobre a possibilidade de gerar uma sobreoferta do grão e consequente queda nos preços de mercado. Nos últimos 29 anos, tanto a área cultivada quanto a produção da oleaginosa cresceram explosivamente, evoluindo de 11,6 milhões de hectares (Mha) e 20,1 Mt em 1990, para 36 Mha e 120 Mt em 2020.

A expectativa era produção superior a 124 Mt há alguns meses, mas a constatação de que o Rio Grande do Sul teve redução superior a 4.0 Mt devido à estiagem derrubou o recorde de produção para cerca de 120 Mt. Uma pena. Enquanto isto, os Estados Unidos irão ampliar a área semeada com soja que começa agora em abril, de 30,79 Mha para 33,79 Mha, recuperando a área que não foi plantada na temporada anterior pelo excesso de chuva na época do plantio.

Apesar da grande oferta de soja no correr da última década, tanto do Brasil quanto dos EUA (os dois maiores fornecedores globais), o preço do grão não despencou para níveis desestimulantes para o produtor, mantendo lucrativa a produção da oleaginosa, graças, principalmente, ao conflito entre China e Estados Unidos e, também, à desvalorização do Real frente ao dólar. Mas há produtor queixando-se da redução dos preços vigentes no mercado atual, frente aos preços praticados entre 2008 a 2012, período de fartura que poderá repetir-se ou não futuramente, a depender do jogo incerto da oferta e da procura.

Se compararmos o preço da saca de soja de 2010, em dólares, os preços atuais são muito inferiores, mas não são muito diferentes se compararmos os valores em reais, dada a desvalorização da moeda brasileira. Os preços atuais da soja não estão ruins, o que sugeriria ser um bom momento para comercializar a atual e a futura safra, considerando que dificilmente a desvalorização do real se manterá nos níveis atuais.

Para auferir mais lucro na comercialização da safra, sem contar com as benesses de um mercado valorizado, o jeito é reduzir os custos de produção utilizando estratégias que diminuam o uso dos insumos: manejo integrado de pragas e inoculação, por exemplo. O primeiro reduz a quantidade de agrotóxicos utilizados no controle das pragas e das doenças e a inoculação pode substituir integralmente os fertilizantes nitrogenados por bactérias fixadoras do nitrogênio atmosférico.

A demanda global por soja, tudo indica, continuará crescendo. Foi a que mais cresceu entre os principais grãos, não só porque a população aumentou, mas, principalmente, porque a renda da população cresceu e passou a consumir mais carnes e outras proteínas animais, que têm na soja sua principal matéria prima. O momento é de crise na economia global por causa da pandemia da Covid 19, mas não deve afetar substancialmente o consumo de proteínas animais, porque quem trocou o consumo de grãos pelo de carnes, dificilmente voltará a privilegiar o arroz com feijão.

Acreditou-se, em 2019, que haveria queda na demanda global de soja pelo não consumo dos milhões de suínos que morreram na Ásia (China, em especial) por causa da Peste Suína Africana. Mas o consumo permaneceu inalterado porque outros animais consumiram o que os suínos mortos não puderam fazê-lo, e a carne suína foi substituída por outras carnes

Os bons e os maus preços se alternarão no mercado. Neste momento o preço de mercado não está favorável em dólares, mas nós vivemos com reais e na nossa moeda o preço está quase ótimo. Está valendo a pena vender, porque o dólar vai cair.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja.