Nunca pretendi questionar o porquê da insistência de alguns “defensores” do meio ambiente, em caracterizar os defensivos agrícolas como agrotóxicos, pretendendo intuir que esses produtos são venenos, não remédios. Vou fazê-lo agora. O mundo inteiro designa esses produtos como pesticidas. O Brasil é o único país a adotar uma nomenclatura própria para o produto: agrotóxico. Para o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, a nomenclatura atual não faz sentido, seria como designar os remédios que os humanos consomem de humanotóxicos.

Não importa o nome que lhe dermos (agroquímico, defensivo agrícola, agrotóxico, pesticida, praguicida ou biocida), desde que lhe reconheçamos o seu mérito na defesa dos campos de produção agrícola contra pragas e doenças. Em boa medida, é por causa deles que o valor da cesta básica brasileira (em valores atualizados) caiu de R$ 900,00 em 1975, para R$ 340, em 2017.

Em 1970, um cidadão brasileiro gastava 45% da sua renda mensal para alimentar-se. Hoje, não mais do que 15%. É inquestionável que a quantidade e qualidade dos alimentos evoluíram exponencialmente desde a revolução industrial (século 18), quando a população mundial era de aproximadamente 1 bilhão de pessoas e 800 milhões viviam na miséria e passavam fome. Atualmente, os famintos continuam os mesmos 800 milhões, mas no contexto de uma população muito maior: 8 bilhões de pessoas, indicando uma redução de 80% para 10%, a população de miseráveis.

Em 1950, a expectativa de vida mundial era de apenas 42 anos, para uma população de 2 bilhões de pessoas, contrastando com os 75 anos dos dias atuais. Melhorou a medicina, mas também melhorou a quantidade e qualidade dos alimentos disponibilizados à população, graças, entre outras causas, aos defensivos responsáveis pelo aumento da produtividade, via redução da competição com as pragas e doenças.

Foi no século 18 que surgiu a figura do economista inglês Robert Thomas Malthus, que, em 1787 escreveu a Teoria da População, em cuja obra previa o crescimento da população humana a uma taxa muito superior à da produção de alimentos, o que levaria a humanidade à miséria generalizada e à fome. Para evitar essa catástrofe, Malthus defendia o controle moral da população mais pobre, porque era nessa franja da população onde havia maior crescimento populacional. O controle da natalidade que Malthus sugeria consistia na imposição da abstinência sexual, casamentos mais duradouros e redução no número de filhos.

A teoria do Pai da Demografia - como é reconhecido - prevendo que o ritmo da produção de alimentos cresceria menos do que a população não se confirmou, porque, se bem a população cresceu exponencialmente desde então, com a produção de alimentos aconteceu a mesma coisa, graças aos novos instrumentos de trabalho postos à disposição do agricultor e que Malthus não poderia ter previsto, como o desenvolvimento de modernas máquinas e equipamentos, sementes melhoradas, fertilizantes e, também, defensivos agrícolas mais eficientes e menos tóxicos.

É notório que os agroquímicos podem intoxicar humanos e animais e prejudicar o meio ambiente se utilizados de maneira irresponsável. Mas convenhamos, apesar dos riscos da sua toxicidade, eles beneficiam muito mais do que prejudicam. Como seria o mundo moderno sem as medidas sanitárias representadas pelo uso desses produtos contra os inimigos das lavouras? A indústria química, impiedosamente criticada por seu esforço na produção de novos pesticidas, não tem poupado recursos no desenvolvimento de produtos menos tóxicos e ambientalmente mais sustentáveis.

Produzir a quantidade de alimentos demandados pela humanidade dependendo apenas do controle natural, é inviável. Reconheçamos.

“A tecnologia resolverá todos os problemas da humanidade, desde alimentos, transporte, saúde e renda, até o desafio da recuperação do equilíbrio ambiental. O único gargalo para um planeta feliz será a incapacidade do homem de acompanhar esse avanço tecnológico”. Stephen Hawking.

Amélio Dall’Agnol, engenheiro agrônomo