Na terceira semana de janeiro, a Ministra da Agricultura Tereza Cristina, acompanhada de empresários brasileiros do agronegócio circularam pela Índia para, ao final do giro, justarem-se à comitiva do presidente Jair Bolsonaro, buscando realizar negócios com o segundo país mais populoso do Planeta (1.3 bilhões de pessoas). Este contingente de indianos tem potencial para proporcionar ao Brasil aumentos significativos de comércio bilateral, ainda modesto: em 2019 o Brasil exportou US$ 2.76 bilhões e importou US$ 4.25 bilhões; déficit de US$ 1.49 bilhões.

Esta realidade tende a mudar com os desdobramentos dos 15 acordos firmados entre os dois países, sinalizando que a Índia poderia converter-se em uma nova China em transações comerciais com o Brasil. Até a década de 1990, o comércio bilateral Brasil/China também era pouco expressivo, mas hoje a China figura como o nosso principal parceiro comercial. Embora a Índia importe poucos produtos agrícolas do Brasil (US$ 841 milhões em 2019), ela tem potencial para aumentar este montante significativamente, diversificando mais suas compras, hoje concentradas em óleo de soja, açúcar e algodão.

No que se refere ao comércio com a Índia, o Brasil poderia investir na produção de pulses (grão de bico, ervilha, lentilha, feijão, entre outras leguminosas), produtos ricos em proteínas, que substituem na dieta dos indianos as proteínas animais - carnes principalmente. A Índia é o maior produtor de pulses do mundo, cerca de 20 milhões de toneladas (Mt), mas o seu consumo é de aproximadamente 23 Mt, o que gera a necessidade de importar o produto de outros países. Em meio a este cenário, os indianos estão explorando a possibilidade de estabelecer uma parceria com o Brasil, em que o nosso país forneceria os pulses que estão faltando no mercado deles.

O Brasil tem potencial para produzir todas a culturas produtoras de pulses e exportá-las para a Índia, diversificando o portfólio de exportações para este gigante asiático. A exportação de pulses poderá ser apenas a porta de entrada de outros produtos agrícolas, como ocorreu com a China, que começou importando soja e minério de ferro e hoje é grande comprador de carnes, açúcar, café, couros e suco de laranja.

Os principais produtos importados do Brasil pela Índia são o minério de ferro, petróleo e aço; produtos com baixo valor agregado. O montante ainda é pouco significativo, mas esta realidade tem potencial para mudar significativamente, em razão do crescimento da renda per capita da população indiana, cuja economia deslancha a uma velocidade superior à da China: o PIB indiano alcançou um aumento recorde de 10% em 2010. Este porcentual caiu, mas continua superior a 6,0% ao ano. Com o aumento da economia, cresce a renda per capita dando condições aos indianos para consumir, inclusive, mais produtos de origem animal como carnes, queijos e ovos, o que, logicamente, dependerá de uma mudança nos hábitos culturais e alimentares desse povo.

Conclusão: a Índia é um consumidor gigante de alimentos enquanto o Brasil é um produtor gigante desses produtos. Dito de outra forma, um pode ser importante para o outro, contudo precisam se reunir e definir estratégias para se estabelecer uma parceria benéfica para os dois países. O jogo já começou.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja