A compreensão de que a agropecuária, especialmente na produção de commodities, tem baixa agregação de valor é um equívoco. É possível e necessário trabalhar sim, para agregar ainda mais valor à nossa produção agrícola, no campo ou na pós-colheita. Mas, antes de falar sobre isso, é preciso conceituar esse processo econômico e entender como o valor é criado.

Ao produzir um prego, um satélite ou uma tonelada de soja, são necessários cinco fatores de produção: recursos naturais, tecnologia, capital, mão-de-obra e capacidade empreendedora. Cada um desses fatores é remunerado respectivamente por aluguel, royalties, juros, salários e lucros.

O valor, por sua vez, é a diferença entre os custos de produção e o preço de venda. Não há criação de valor quando o preço de venda de um produto apenas cobre os custos de cada um dos fatores de produção.

Valor existe quando o todo é maior do que a soma das partes. Em outras palavras, quando o preço pago por um produto é superior ao montante gasto em salários, juros, royalties, aluguel e lucros.

Adicionar valor a um produto, significa aumentar a diferença entre os gastos com os fatores de produção e o preço que o mercado está disposto a pagar pelo produto.

Existem duas formas de agregar valor: a) diferenciando o produto de forma a aumentar o preço que o mercado está disposto a pagar; ou b) reduzindo os custos de produção mantendo os preços que o mercado deseja pagar.

Como as commodities agropecuárias são produtos brutos e não processados, com características padronizadas, indiferenciação de origem, comercializados em mercados globais, a agregação de valor passa necessariamente por aumentar a quantidade produzida utilizando a mesma quantidade de fatores de produção de maneira a ampliar a diferença entre a remuneração dos fatores e o preço estabelecido pelo mercado.

O uso de tecnologias como sensoriamento remoto, drones, inteligência artificial, análise de dados e sementes adaptadas é que torna possível aumentar a produtividade e a distância entre os custos e o preço de mercado. Por outro lado, a diferenciação de produtos agrícolas, de forma a torná-los mais atrativos aos consumidores, eleva seu preço de mercado, mesmo antes de qualquer processamento, e, por conseguinte, cria valor.

É aqui que fazemos a diferença. Graças a centros de pesquisa de excelência, como EMBRAPA, IDR Paraná (IAPAR, EMATER), IAC, EPAMIG, e uma academia com cursos de qualidade mundial e intercâmbio de pesquisadores, o Brasil tem alcançado uma eficiência única na produção agropecuária, reduzindo custos, aumentando a produtividade dos fatores e diferenciando produtos.

A quantidade de valor agregado é facilmente percebida na medida que a produção da agricultura e da pecuária representam 6% do PIB brasileiro, mas o Agronegócio, que engloba toda a cadeia de valorização da produção agrícola, corresponde a 27% do PIB nacional.

Precisamos sim, continuar o processo de agregação de valor aos nossos produtos agrícolas, mas temos que ter em mente que cada tonelada de soja brasileira embarca tanta tecnologia quanto qualquer outro produto manufaturado. Sem esquecer também que o Agro é o único setor que se vale de “insumos gratuitos” do meio ambiente, como a luz do sol e o carbono do ar, para gerar produtos de consumo humano como alimentos, fibras e combustíveis, todos com valor de mercado.

Então se alguém te disser que produtos agrícolas têm “baixo valor agregado”, pode refutar com convicção. Quem diz isso, ou não conhece o Agronegócio brasileiro ou tem algum preconceito contra o setor...

Marcos Rambalducci – Economista e Professor da UTFPR/Londrina e Paulo Sendin – Engenheiro Agrônomo, Membros da Governança AgroValley de Londrina