O Brasil é um grande produtor de alimentos, produzindo seis vezes mais do que consome. A China e a Índia produzem mais do que o Brasil, mas consomem tudo ou quase tudo porque a população de ambas nações é cerca de sete vezes a do Brasil. O Brasil, embora seja apenas o 4º maior produtor de alimentos, é o 2º maior exportador, depois dos Estados Unidos. Embora tenha condições para produzir muito mais, pois conta com imensas áreas aptas e disponíveis para o cultivo, não deseja fazê-lo à custa de mais desmatamento.

Há quem argumente que o desmatamento é inevitável se queremos prover o alimento necessário para todos, principalmente para os mais necessitados. Não é verdade. O Brasil provou no correr das últimas décadas que é capaz de produzir mais com mais produtividade.

Em meados do século XX, a insegurança alimentar preocupou a humanidade e a ameaça foi afastada pelo aumento da produção proporcionado pelo uso intensivo de tecnologias de produção; fertilizantes e agrotóxicos em especial, ferramentas propostas pela Revolução Verde de Norman Borlaug. O aumento de produtividade não só afastou a ameaça da fome no mundo, como gerou excedentes alimentares. No entanto, os cidadãos famintos e subnutridos continuaram a existir porque as suas deficiências não são apenas por comida, mas, principalmente, por dinheiro para comprá-la.

Antes desse novo paradigma, o incremento de área - grande parte decorrente de desmatamento - era o principal recurso encontrado pela humanidade para aumentar a disponibilidade de alimentos. A Revolução Verde mudou este cenário, proporcionando ganhos de produtividade pelo uso de mais tecnologia nos processos produtivos, resultando na salvação de milhões de pessoas mundo afora, principalmente na Ásia. Porém, setores da sociedade tentam vincular determinados danos causados ao ambiente e à saúde de humanos e animais com as práticas preconizadas pela Revolução Verde, o que causa intenso debate no mundo científico.

A partir deste quadro, originou-se um foco em produção sustentável, que busca maior produção, mas com uso racional de insumos e adoção de modernos instrumentos tecnológicos, como a agricultura de precisão e o controle biológico de pragas e doenças. Com isso, o mercado de produtos biológicos tem crescido aceleradamente pelo mundo. Já estão disponíveis mais de 400 produtos para controle biológico; 20 a 50 deles estão disponíveis no Brasil.

No passado, o desmatamento foi incentivado no Brasil para a ocupação de territórios inóspitos e produção de alimentos visando atender à demanda de milhões de brasileiros. Atualmente, entretanto, tem-se um substancial salvamento de áreas pelo aumento da produtividade.

Apenas para ilustrar com o cultivo de soja, o Brasil salvou do desmatamento 80 milhões de hectares (Mha), se comparamos a produtividade da década de 1960 com a de 2019. Explico: para o Brasil produzir as 126,3 milhões de toneladas esperadas para a presente safra (Agroconsult, 2020) com a produtividade média da década de 1960 (1.089 kg/ha), seriam necessários 116 Mha, ao invés dos 36 Mha atualmente cultivados com a oleaginosa.

É importante tanto proteger o ambiente da destruição, quanto proteger as pessoas da morte por inanição. Os dois problemas devem ser considerados. O ministro Paulo Guedes afirmou no recente encontro de Davos, Suíça, que o problema do desmatamento é a pobreza. É verdade que há pobres que desmatam para sobreviver, mas também há ricos que desmatam para enriquecer.

O bem-estar animal e a produção orgânica são outras preocupações dos tempos modernos. Cada vez encontramos mais cidadãos preocupados com o tratamento dado aos animais confinados, negando-se, inclusive, a consumir sua carne ou os vegetais tratados com agrotóxicos. Vegetarianos e veganos estão em alta, intuindo que o consumo de carnes pode cair e o de proteínas vegetais crescer. A pergunta que fica é se a carne futura que comeremos terá origem animal, vegetal ou será artificial.

Além de maior consumo de vegetais e menor consumo de carnes, também poderá estar no cardápio dos humanos a preferência pelo consumo de produtos orgânicos produzidos em fazendas urbanas e de animais não convencionais, como insetos. Alguns especialistas estimaram que o consumo de insetos aumentará 70% até 2050, dado o menor custo para produzi-los e sua maior concentração de proteínas. São necessários 7 kg de carne bovina para prover 1 kg de proteínas, contra apenas 2 kg de insetos.

É nojento comer insetos? Te ponha no lugar de um faminto.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja