A soja é o principal ativo agrícola do Brasil desde final dos anos 70, a partir de quando tem respondido por milhões de empregos e gerado bilhões de dólares ao longo da sua complexa e extensa cadeia produtiva. Tudo começa pela produção e distribuição das máquinas, equipamentos e insumos (antes da porteira), continua dentro da porteira com as tarefas de manejo do solo, semeadura, tratos culturais e colheita e termina depois da porteira com o transporte, armazenagem e processamento do grão, entre outros.

O expressivo crescimento da área plantada e produção de soja no Brasil tende a continuar no curto e médio prazo, quando poderá incorporar áreas atualmente ocupadas com pastagens degradadas. A soja é a cultura que produz mais proteínas por hectare e a um custo muito baixo, constituindo-se na principal matéria prima utilizada na elaboração das rações que alimentam os animais domésticos que produzem as carnes.

Nestes tempos de coronavírus, quando o comércio global dá sinais de que será reduzido, a demanda por soja continua em alta. Um prognóstico inicial para a temporada 2020/21 indicou um crescimento da demanda mundial pelo grão de, ao menos, 2.0 Mt. Para o Brasil, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou que a área plantada com a oleaginosa aumentará em cerca de 4%, bem acima dos 2,8% de incremento médio das cinco últimas temporadas. Segundo o USDA, a área estabelecida com soja no Brasil (temporada 2020/21) totalizará 38,5 milhões de hectares (Mha), com uma produção de 129 milhões de toneladas (Mt), caso se confirme o estimado rendimento médio de 3.350 kg/ha.

Segundo o USDA, o estímulo para o incremento da área cultivada deve-se à boa rentabilidade auferida pelos agricultores na comercialização do grão. Segundo este órgão, os custos de produção no Brasil são menores, os preços domésticos são mais elevados, a taxa de câmbio é favorável, a infraestrutura de transporte e de armazenagem melhorou, com a conclusão do asfaltamento da BR-163 rumo ao norte, entre outras melhorias. Adicionalmente, a demanda global está aumentando, com destaque para a China, que busca reconstruir seu plantel de suínos, recentemente dizimado pela peste suína africana.

Segundo estimativas da FAO, a produção mundial de soja deverá crescer cerca de 50% até 2050, passando dos atuais 350 Mt para 515 Mt. O Brasil é visto como o principal potencial fornecedor da demanda adicional que será gerada, dada a sua grande disponibilidade de terras aptas para o cultivo da soja, domínio tecnológico para produzir com eficiência em regiões tropicais de baixa latitude e empreendedorismo único do agricultor brasileiro.

A soja está entre os principais responsáveis pelo desenvolvimento e melhoria na qualidade de vida das populações do Centro-Oeste brasileiro, região inóspita e subdesenvolvida até 1970. A movimentação de capital e estabelecimento de organizações ocasionou um aumento significativo das populações de pequenos municípios no interior do país.

O IDH índice de desenvolvimento humano das cidades onde o agronegócio da soja prosperou, avançou significativamente. Em muitas dessas localidades, o milho safrinha acompanhou a soja e com a presença de ambos cresceu a produção de suínos, aves e bovinos. Este cenário permitiu o estabelecimento de agroindústrias de processamento do grão, de carnes e de biocombustíveis, entre outras, levando empregos e desenvolvimento para essas regiões, que cresceram com a construção de escolas, hospitais e comércio pujante.

A soja não fornece apenas a proteína que se transforma em carnes, leite e ovos. Também responde por mais de 90% do óleo de cozinha e pela maior parte do óleo utilizado na produção do biodiesel. E isto faz com que a demanda pelo grão seja expressiva e gere o desenvolvimento socioeconômico de diversas regiões brasileiras.

A soja sinaliza que continuará contribuindo para o crescimento sócio econômico do Brasil, como tem feito ao longo do último meio século.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja