Na natureza existem fungos do bem, como os Trichoderma spp., e existem fungos do mal, como o causador do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), que acarreta sérios problemas fitossanitários em várias culturas, inclusive a soja. Em anos mais recentes, sua ocorrência e níveis de dano nas lavouras da oleaginosa aumentaram significativamente nas áreas de cultivo de maior altitude do Cerrado, assim como nas áreas mais tradicionais de produção do Sul e Sudeste do país, podendo reduzir a produtividade em até 70%.

Estima-se que aproximadamente 28% da área de produção de soja brasileira esteja infestada pelo patógeno, intuindo que cerca de 10 milhões de hectares de cultivo da oleaginosa estejam infestados pelo fungo, cujas estruturas de resistência (escleródios, assemelhados a fezes de rato) podem permanecer ativas no solo por vários anos.

No processo de colheita dos grãos da soja, essas estruturas do fungo caem ao solo, tornando-se fonte de inóculo para as lavouras subsequentes. Além dos escleródios que caem e infestam o solo, outros escleródios poderão ser coletados junto com as sementes de soja, disseminando o fungo caso elas não sejam adequadamente beneficiadas antes da semeadura.

As sementes, não só de soja, mas de inúmeras outras culturas suscetíveis, quando infestadas pelo fungo, se constituem num dos principais meios de transmissão da doença para áreas não contaminadas, razão pela qual o agricultor deve dar máxima atenção à qualidade sanitária das mesmas, optando por fornecedores credenciados.

Também é fundamental realizar o tratamento de sementes com fungicidas apropriados, visando a eliminação da possível presença de fragmentos do agente causador do mofo-branco no interior do tegumento.

A denominação mofo-branco ou podridão-branca da haste, dada à doença, advém do abundante micélio branco desenvolvido pelo fungo, que lembra algodão.

A soja, dada a grande área cultivada, o volume de grãos produzidos e o montante de recursos financeiros gerados, pode ser considerada o principal hospedeiro do fungo, embora ele ataque mais de 400 espécies de plantas (feijão, girassol e algodão, entre elas).

Os danos causados pelo mofo-branco se manifestam com maior severidade em regiões com clima chuvoso, temperatura amena (15ºC a 25ºC), alta umidade relativa do ar e pouca incidência de luz solar.

O fungo é capaz de infectar qualquer parte da planta de soja, porém o ataque é mais intenso na fase reprodutiva, entre as fases R1 a R4, atacando as plantas a partir das inflorescências, das axilas dos pecíolos e dos ramos laterais. A doença ocorre com maior intensidade nos estados de Goiás, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

O mercado ainda não disponibiliza cultivares de soja resistentes ao ataque de S. sclerotiorum. Um bom critério para a escolha de variedades menos sensíveis ao mofo-branco é optar por aquelas de porte ereto e menos ramificadas, com folhas pequenas e com períodos de florescimento mais curtos.

O controle químico é eficiente e deve ser adotado sempre preventivamente, pois não tem efeito curativo significativo. O período de maior vulnerabilidade da soja à infecção por S. sclerotiorum é o de florescimento pleno ou o fechamento das entrelinhas, no caso de cultivares de hábito de crescimento indeterminado. Neste momento, as plantas devem estar protegidas por fungicidas caso haja presença de apotécios, que são estruturas reprodutivas do fungo, no solo.

As redes nacionais de avaliação de fungicidas e produtos biológicos coordenadas pela Embrapa Soja, Tagro e UniRV, demonstram que o controle químico é uma boa opção para reduzir as estruturas de sobrevivência do fungo.

Mas, mesmo tratando com fungicidas, alguns escleródios sobrevivem no solo e germinam, razão pela qual, outras medidas de manejo devem ser adotadas para inviabilizar a sobrevivência do fungo durante a entressafra, como a rotação da soja com gramíneas, a cobertura do solo com palhada, o tratamento das sementes com fungicidas e o controle biológico com biofungicidas.

A eficiência no controle do mofo-branco em soja só será efetiva com a integração do conjunto de medidas acima indicadas. Medidas isoladas não proporcionarão o controle desejado.

Amélio Dall’Agnol e Maurício Conrado Meyer, pesquisadores da Embrapa Soja