Uma boa safra de soja começa na entressafra. É nesta etapa do processo produtivo que os produtores precisam estar alertas para evitar o aumento da infestação de plantas daninhas passíveis de prejudicar a cultura de soja semeada na sequência. Um dos principais mecanismos de disseminação das plantas daninhas, em especial as anuais, é a alta produção de sementes. Estimativas de bancos de sementes de plantas daninhas no solo, em áreas agrícolas de diversos cultivos na Inglaterra, Estados Unidos e França mostraram números médios variando de 4.120 a 49.800 sementes por metro quadrado, com grandes diferenças entre amostras.

As plantas daninhas afetam a produção agrícola devido, principalmente, às interferências negativas impostas pela competição por água, nutrientes, luz e efeitos alelopáticos. Além disso, as plantas daninhas podem ser hospedeiras de pragas, agentes causadores de doenças e nematoides, além de dificultar a operação de colheita ou mesmo, depreciar a qualidade final do produto colhido, causando, assim, perdas na rentabilidade final do processo de produção.

Segundo a Embrapa, normalmente ocorre a multiplicação de plantas daninhas no período de entressafra da soja, especialmente quando o solo fica em pousio no inverno e as plantas daninhas se multiplicam, via produção de sementes. Na região subtropical do Brasil o pousio pode coincidir com o outono, mas a estratégia é a mesma, ou seja, não deixar as infestantes produzir sementes.

Entre os métodos utilizados para controlar as infestantes na entressafra estão o controle cultural, o mecânico e o químico, sendo este, o mais utilizado. Dentre estes métodos deve ser dado destaque para o controle cultural, que é baseado no cultivo de espécies de inverno para formação de abundante palhada como a aveia, o azevém e o trigo no Sul e o milheto e a braquiária, consorciada ou não com o milho de segunda safra no Paraná, São Paulo e Centro Oeste. A cobertura morta tem possibilitado a redução no uso de herbicidas em semeadura direta, pois diminui a emergência das plantas daninhas entre 60% a 90%, quando comparado com áreas não cultivadas na entressafra.

O manejo adequado das plantas daninhas na cultura da soja tem se tornado mais difícil a cada ano. Novos casos de resistência são relatados com frequência, inclusive de plantas daninhas resistentes a mais de um mecanismo de ação de herbicidas, já assombra o Brasil. A Embrapa ressalta que é preciso investir na rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas para prevenir e ou eliminar problemas de plantas tolerantes e/ou resistentes aos herbicidas. A utilização continuada de um mesmo herbicida modifica a flora daninha, com grande propensão de selecionar populações tolerantes e/ou resistentes ao produto utilizado.

icon-aspas destaque para o controle cultural, que é baseado no cultivo de espécies de inverno para formação de abundante palhada

Na fase anterior ao estabelecimento do sistema plantio direto (SPD), o pousio figurava como uma estratégia de controle das plantas daninhas, uma vez que o processo de produção de soja convencional eliminava as invasoras via aração e gradagem previamente ao estabelecimento das culturas. Mas, estudos recentes indicam que os cultivos de entressafra são mais eficientes na supressão das plantas daninhas do que o pousio.

O estabelecimento do SPD foi uma dádiva para os agricultores brasileiros. Além de reduzir drasticamente a erosão, ele antecipa a semeadura da soja após os cultivos de inverno e seus restos culturais amenizam a incidência dos raios solares e reduzem o impacto das gotas de chuva sobre os agregados do solo. Também, reduz os custos no estabelecimento das lavouras e pode auxiliar no controle da matocompetição.

A rotação de cultivos, um dos pilares do SPD, ainda é pouco praticada pela maioria dos agricultores, embora cientes de que a abundância de cobertura morta no solo, que ela proporciona, seja estratégia eficaz na redução do banco de sementes das infestantes. A produção de abundante palhada constitui-se na âncora dos planos de manejo, integrando os métodos de prevenção com os métodos de controle (os culturais, físicos, biológicos e químicos). A bem da verdade, a maioria dos agricultores restringe a prática do plantio direto à eliminação do arado e da grade e ao uso intensivo de herbicidas na pré-semeadura.

Planta daninha é toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja