Desde criança eu ouço alertas a respeito da cobiça internacional sobre a maior floresta tropical do planeta: a Amazônia. A comunidade internacional, mormente a constituída pelas nações mais desenvolvidas - com destaque para as potências europeias - argumentam que o Brasil é incapaz de cuidar satisfatoriamente dessa grande floresta e que deveria, portanto, dividir as responsabilidades pela sua manutenção, com os restantes países do mundo.

O Brasil é acusado, injustamente, de estar derrubando a grande floresta tropical com índices insustentáveis, embora menos do que 20% dessa floresta tenham sido desmatados e, segundo a NASA (Agência Espacial Americana), apenas 7,6% da vegetação nativa do território brasileiro foi convertida em lavouras, pastagens ou florestas plantadas, contra parcelas muito maiores na média dos países europeus. Segundo a NASA, os países europeus utilizam - na média - entre 45% e 65% do seu território para atividades agrícolas, muito mais do que o Brasil, portanto.

Imagem ilustrativa da imagem Lavouras aqui, florestas lá
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É verdade que existe desmatamento e queimadas na Amazônia. Sempre houve, principalmente na estação seca (maio/setembro). Talvez não com a gravidade que a mídia nacional e internacional está divulgando. O que o Brasil não pode é negar o óbvio e estabelecer um conflito com quem importa nossos produtos e ameaça com retaliações. Quem mais tem a perder somos nós.

A Dinamarca foi quem mais desmatou: 76.8% do seu território é cultivado, seguida pela Inglaterra (63.9%) e pela Alemanha (56.9%). Os restantes países europeus desmataram menos, mas, mesmo assim, muito mais do que o Brasil. Dentre os países com territórios gigantes como o nosso, a Índia, os Estados Unidos e a China também desmataram mais do que o Brasil: 60,5%, 18,3% e 17,7%, respectivamente.

Então a pergunta: as nações desenvolvidas que estão gritando contra as queimadas na Amazônia estão realmente preocupadas com a nossa floresta - que erroneamente consideram ser o pulmão do mundo - ou temem a competição do nosso eficiente e competitivo agronegócio, buscando meios - disfarçados de preocupação ambiental ou proteção dos povos indígenas - para nos manter subdesenvolvidos e provedores de matérias primas baratas, como se ainda fôssemos uma colônia submissa?

Outra causa da gritaria “em favor” da floresta amazônica de europeus e outros está na grande concentração de biodiversidade existente no Bioma Amazônia, digna da cobiça internacional. A importância dessa biodiversidade está no desenvolvimento de novas plantas, fármacos, cosméticos, entre outros produtos.

Nada mais racional, portanto, pretender que aqui as florestas sejam preservadas, enquanto elas já desapareceram dos seus territórios e foram, em boa medida, incorporadas ao processo produtivo agrícola, cuja produção nunca havia sido ameaçada pela ineficiência agrícola do Terceiro Mundo.

Mas o Brasil mudou e tornou-se uma ameaça, principalmente por causa da sua capacidade de produzir com eficiência em regiões tropicais de baixa latitude - onde se localiza a grande floresta tropical - dando ensejo às falsas críticas contra sua devastação, quando o que se quer mesmo é evitar o confronto da competitividade dos agricultores brasileiros com aqueles dessas nações, que nos querem manter afastados dos seus mercados com a desculpa esfarrapada de que a produção foi obtida mediante desmatamento ou com o uso excessivo de agrotóxicos.

Como gostam de repetir os agricultores americanos: farms here, forests there (lavouras aqui, florestas lá), indicando, também, o desejo dos europeus.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja