Até muito recentemente, a irrigação de lavouras no Brasil não era muito expressiva, com exceção do arroz irrigado por inundação no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em anos mais recentes, no entanto, o Brasil identificou na irrigação uma possibilidade para aumentar a produtividade e minimizar riscos e, com isto, reduzir a necessidade de ampliação da área cultivada, diminuindo o desmatamento.

Irrigação em larga escala, utilizando métodos modernos de irrigação (pivôs, gotejamento, micro aspersores) é relativamente nova no Brasil. O uso da moderna irrigação no país cresceu muito a partir da década de 1950, quando a área irrigada era inferior a 65 mil hectares e, segundo a ANA (Agência Nacional de Águas), alcançou 6,95 Mha (milhões de hectares) em 2015, o que coloca o Brasil entre as 10 nações com maior área irrigada.

O Brasil é um país privilegiado quanto ao volume de água doce disponível para irrigação, indústria, pecuária, entre outros (12% da reserva global, segundo a FAO). Dispõe do segundo maior volume depois da Rússia, onde a maior parte da água doce está congelada nas geleiras da Sibéria e, portanto, indisponível para uso agrícola.

O principal uso da água doce no Brasil, assim como no restante do planeta (70% do total, segundo a FAO), é para irrigar os campos de produção agrícola, com o propósito de produzir alimentos e fibras. Embora o Brasil seja privilegiado quanto à disponibilidade deste recurso, a água doce é um bem escasso. A maior parte dessa água encontra-se congelada nas calotas polares e nas geleiras próximas dos polos. Outra parte está no subsolo e só pode ser acessada se extraída das suas profundezas com a utilização de bombas poderosas.

É importante considerar que no Brasil o maior volume de água doce está localizado na região Norte, onde a densidade populacional é baixa e a agricultura é pouco desenvolvida. Cerca de 68% da água doce do Brasil se concentra na Região Norte, onde estão menos de 10% dos seus habitantes.

A área irrigada no Brasil está crescendo aceleradamente, com destaque para os pivôs centrais. Aumentou 47 vezes no período de 1985 a 2018 e continua crescendo a um ritmo aproximado de 3,5% ao ano. Atualmente são irrigados cerca de 1,5 Mha com pivôs, cuja maior concentração está na região de Cerrado, com destaque para os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e São Paulo, que utilizam, principalmente, as águas das bacias dos rios São Francisco e Paraná para irrigar. Dentre as culturas que mais se beneficiam dessa irrigação está a soja, o milho e o feijão, além de várias olerícolas.

Embora privilegiado pela quantidade de água doce disponível, o Brasil precisa conscientizar-se de que a água é um recurso escasso no planeta e que atenção especial precisa ser dada à utilização de sistemas de irrigação mais eficientes (gotejamento, micro aspersão, entre outros), que possibilitam irrigar a mesma área com muito menos água, tendo reflexos positivos também na energia gasta no processo.

A segurança hídrica tem correlação com a segurança alimentar. Não se produz alimento sem o uso da água.

Amélio Dall’Agnol, Pesquisador da Embrapa Soja