A carne mais consumida na Índia é a de frango, seguida pela de búfalo, de cabra, de suínos e, por último, de bovinos
A carne mais consumida na Índia é a de frango, seguida pela de búfalo, de cabra, de suínos e, por último, de bovinos | Foto: iStock

Quando a mídia nos apresenta fatos relacionados à Índia, ela quase sempre salienta o contraste entre a riqueza dos marajás e a miséria dos párias. Essa imagem correspondeu à realidade do país durante séculos, mas a Índia está mudando e muito rapidamente. Muito mais rápido do que poderia supor um cidadão brasileiro, acostumado à eterna promessa do “agora vai”, mas o gigante não se move, fazendo jus ao “deitado eternamente em berço esplêndido” do Hino Nacional.

Mas a Índia moderna se mexe e está deixando o passado e o Brasil para trás. Seu PIB, muito inferior ao brasileiro há uma década, já o supera e sinaliza distanciar-se cada vez mais, com estimativas de que será a 3ª maior economia do Planeta em 2050, só ficando atrás da China e dos Estados Unidos (Pricewaterhouse Coopers).

Assim como as importações chinesas beneficiaram o Brasil com suas demandas por commodities minerais e agrícolas, necessárias para sustentar seu explosivo crescimento, a Índia sugere que poderá trilhar a mesma rota e constituir o Brasil como importante garantidor da segurança alimentar da sua crescente população.

Embora a Índia seja o terceiro produtor mundial de alimentos (cerca de 300 milhões de toneladas de grãos), à frente do Brasil, portanto, sua população é seis vezes maior e para alimentá-la precisará importar comida, visto que sua capacidade para produzir mais é limitada, dada a indisponibilidade de áreas agricultáveis - quase integralmente ocupadas por lavouras de baixa produtividade - onde ainda vive mais de 50% da população.

A propósito da produtividade, ela está em alta na Índia e aparenta ser a principal ferramenta disponível para o país alavancar sua produção, que, na média dos últimos 40 anos, cresceu à taxa média de 3% ao ano e, na última década, 4,6% ao ano.

Diferente da Índia, o Brasil dispõe de imensas reservas de terras agricultáveis inexploradas e tem potencial, portanto, para tornar-se um grande provedor de produtos agrícolas que a Índia precisará importar. Segundo a NASA (Agência Espacial Americana), 60,5% das terras agricultáveis da Índia estão ocupadas, contra apenas 7,6% do Brasil. A crescente demanda por produtos agrícolas do país asiático decorre do rápido crescimento da economia, a qual promove o aumento da renda per capita da população, que passa a consumir mais e melhor - proteínas animais, principalmente.

O consumo de carnes na Índia ainda é pequeno, razão pela qual o país consome muitos grãos de leguminosas - pulses, principalmente - os quais fornecem as proteínas não ministradas pelo baixo consumo de carnes. A carne mais consumida na Índia é a de frango, seguida pela de búfalo, de cabra, de suínos e, por último, de bovinos (Índia 2017).

Ainda tem muito pobre na Índia. Estima-se que uma quarta parte dos miseráveis do Planeta estejam lá. Mas o governo está determinado a incorporar esse contingente na cadeia de consumo, o que demandará mais produção ou, na falta dela, mais importações. A demanda por proteína animal está crescendo rapidamente na Índia, assim como a de pulses, cujo consumo atual é de 22 Mt, mas só produzem 19 Mt e se estima que precisarão de 39 Mt em 2050.

O crescimento econômico indiano oferece oportunidade para o Brasil incrementar suas exportações, ainda muito pequenas frente às principais economias do Planeta: cerca de 1,5% do comércio global.

A Índia poderá ser a alavanca que impulsionará as futuras exportações brasileiras, igual aconteceu com a China, que era um importador insignificante de produtos brasileiros no início da década de 1990 e hoje é o principal parceiro, respondendo por mais de 30% do comércio exterior do Brasil.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja