Para quem acompanha a mídia e ouve quase que diariamente notícias preocupantes sobre os gases que promovem o efeito estufa (GEE), responsáveis pelo aquecimento global, fica com a impressão de que esses gases são sempre indesejados e prejudiciais para a vida no Planeta. Mas o problema não é tão dramático assim. O que pode prejudicar a vida na Terra não é a simples presença dos GEE, mas seu excesso, principalmente do CO2 emitido pela queima de combustíveis fósseis e de madeira de desmatamentos.

Imagem ilustrativa da imagem Gás carbônico, fotossíntese e aquecimento global
| Foto: iStock

O carbono presente no gás carbônico (CO2) das queimadas, é um elemento extremamente importante para a natureza. Está sempre circulando no meio ambiente e entre os seres vivos, porque faz parte da composição das moléculas orgânicas e está presente na atmosfera na forma de CO2, exercendo papel importante no efeito estufa e no processo fotossintético dos vegetais, para cujas tarefas eles são indispensáveis.

Os GEE são necessários para manter a temperatura terrestre suportável para os seres vivos (plantas e animais). A vida na terra seria inviável, dado o frio intenso que tomaria conta da sua superfície, sem essa nuvem de gases atmosféricos, impedindo que o calor da terra aquecida pelo sol não desapareça no vazio do espaço. Parte da radiação solar que incide sobre a Terra é refletida de volta para o espaço sideral e outra parte é absorvida pelo Planeta, aquecendo-o. Existem muitos gases de efeito estufa circulando pela atmosfera, mas os mais importantes são o CO2 e o metano, dada a grande quantidade emitida, relativamente aos demais gases.

As preocupações da sociedade com o excesso de emissões de GEE são legítimas. Isso porque o homem está exagerando na queima de petróleo, de gás natural e de carvão, além de madeira originada de desmatamentos para abertura de novos espaços para produção agrícola, assim como para a construção de rodovias e loteamentos urbanos, o que promove o acúmulo de GEE na nossa atmosfera; de CO2, principalmente.

A temperatura na superfície da terra já subiu 0,5 ºC desde a era industrial (séculos XVIII e XIX) e, segundo estudos recentes, poderia amentar até 5 ºC até 2100, se as emissões não forem contidas, o que seria uma catástrofe. O aquecimento global é responsável por desencadear uma série de mudanças no Planeta, como o derretimento das geleiras polares e, como consequência, o aumento do nível dos mares, resultando em inundação de cidades costeiras, extinção de várias espécies, aumento da quantidade de chuvas em algumas regiões e longos períodos de estiagem em outras.

Interessante salientar que, além dos inconvenientes causados pelo excesso de emissões poluentes na atmosfera, nem tudo é negativo com os GEE. Esse pequeno acréscimo de +0,5 ºC na temperatura média da terra já resultou na habilitação para cultivo de mais de 50 milhões de hectares de terras na região da pré-Sibéria (Rússia). Além disso, a National Academy of Sciences dos Estados Unidos divulgou recentes estudos mostrando que, nos últimos 15 anos, as alterações climáticas provocadas pelo aquecimento global se mostraram como o principal impulsionador do aumento da produtividade do milho norte-americano. Esse aumento de temperatura resultou, também, no aumento da janela de cultivo de diversas espécies, reduzindo o período de frio e aumentando a estação de clima temperado.

Dito isto, pareceria que estamos sugerindo que o aquecimento global traz mais vantagens do que desvantagens; o que não é verdade. Se por um lado grandes áreas estão sendo incorporadas ao processo produtivo agrícola pela elevação da temperatura em regiões tradicionalmente mais frias, por outro lado, imensas áreas hoje produtivas poderão desaparecer como centros de produção agrícola. Nathan Mueller, pesquisador da Universidade do Colorado, adverte que as condições climáticas amenas que ajudaram no aumento da produtividade do milho no meio oeste americano provavelmente não serão permanentes. “Se o clima na região continuar a aquecer, como esperado, em breve chegará um momento em que as condições temperadas se tornem sufocantes e que secas e tempestades se intensifiquem”.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

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