Atualmente, a prática de processar milho para produzir etanol não surpreende mais os brasileiros
Atualmente, a prática de processar milho para produzir etanol não surpreende mais os brasileiros | Foto: Gustavo Carneiro-7/12/2018

A sociedade brasileira surpreendeu-se quando foram veiculadas as primeiras notícias sobre a utilização do grão de milho como matéria-prima para a produção de álcool combustível, nos Estados Unidos (EUA). Na visão dos brasileiros, soava irracional utilizar o milho com tal propósito, visto que o cereal é indispensável para a alimentação humana e animal e o biocombustível poderia ser obtido de outras fontes mais eficientes; cana de açúcar, por exemplo, cuja produtividade supera as 7,0 toneladas por hectare (t/ha) de etanol, ante apenas 4,4 t/ha de etanol do milho.

Os EUA são, isoladamente, o maior produtor mundial de milho: 350 milhões de toneladas (Mt), quase 40% da safra mundial. Por isto, o cereal é sua melhor opção para a produção de etanol, diferente do Brasil, maior produtor global de cana-de-açúcar.

Atualmente, a prática de processar milho para produzir etanol não surpreende mais os brasileiros, pois o Brasil também entrou nessa onda e sinaliza com a possibilidade de intensificar a produção do biocombustível a partir do cereal, especialmente em regiões onde o grão é matéria-prima barata, dada a distância que separa sua produção dos centros de consumo ou dos portos para exportação.

Produzir e consumir localmente o biocombustível, dispensando suas longas caminhadas desde os centros de produção até os centros de distribuição, é o que se deseja para o etanol de milho do MT.

O interesse pelo uso de milho na produção de etanol vem, principalmente, do Estado de Mato Grosso (MT), onde já operam quatro usinas de etanol de milho ou alternando o milho com a cana-de-açúcar nos períodos de entressafra desta.

Outras cinco mega usinas de etanol de milho estão em construção no MT, e outras estão programadas para execução em anos próximos.

Atualmente, a produção de etanol de milho no Brasil é de apenas 1,4 Mt, ante uma produção de 29 Mt de etanol de cana. Com esta produção, o Brasil figura como segundo maior produtor global de etanol, tendo à frente os EUA com 61 Mt, obtidas a partir do processamento de cerca de 150 Mt de milho.

Por mais promissora que a produção de etanol de milho no Brasil se apresente com a entrada em operação das usinas em construção e as projetadas, a cana-de-açúcar continuará sendo a principal matéria-prima na produção do biocombustível.

Com o advento do milho safrinha a partir da década de 1990, a área cultivada com o milho 1ª safra foi reduzida de 13,0 Mha (1992) para algo em torno de 6,0 Mha (2018) e a área liberada pelo milho foi total ou majoritariamente absorvida pelo cultivo de soja, inibindo a possibilidade de rotação da soja com o milho e estabelecendo, na região tropical do Brasil, um novo sistema de produção: soja/ milho safrinha.

A preferência do produtor brasileiro pelo cultivo da soja no período primavera-verão em detrimento de outras culturas, principalmente do milho, prejudicou a prática de cultivar o cereal em rotação com a soja.

Agora, no entanto, com a possibilidade de o milho assumir protagonismo na produção de etanol poderia haver estímulos para o retorno do milho 1ª safra em parte da área hoje cultivada pela soja, por causa do seu maior potencial produtivo e, principalmente, por causa dos benefícios da rotação, a qual promoveria maior produtividade de ambas as culturas.

Amélio Dall’Agnol e Fernando Adegas, engenheiros agrônomos