O cidadão brasileiro foi orientado a considerar que etanol se produz a partir da cana de açúcar, cultura muito mais eficiente do que outras fontes de matéria prima na produção deste biocombustível – como o milho por exemplo. Etanol de milho era coisa para americanos até muito recentemente, porque eles não contam, como o Brasil, com o clima tropical favorável para a produção da cana.

No entanto, etanol de milho não é mais coisa apenas de norte-americanos. Também é produzido no Brasil que sinaliza, inclusive, com produções futuras em larga escala na Região Centro Oeste. O destaque é para o estado do Mato Grosso (MT), cuja produção é favorecida pelo baixo preço local do milho, dada a distância que separa a produção dos centros de consumo ou dos portos para exportação, localizados no Sul e no Sudeste, em sua maioria.

No processamento do milho para etanol, apenas o amido é utilizado no processo (2/3 do grão), deixando 1/3 do grão como resíduo denominado DDG (Dried Distiller Grain). Uma tonelada de milho triturada, fermentada e destilada produz 420 litros de etanol e 300 kg de DDG. Visto que as proteínas, minerais, gordura e vitaminas do milho não são utilizadas na produção do etanol, elas se concentram no 1/3 do cereal não utilizado na produção do biocombustível e que resulta num concentrado “residual” proteico muito utilizado na alimentação animal, à semelhança do farelo de soja, só que mais barato (R$ 550,00 vs R$ 1.000,00 da soja), porque tem menos proteínas (30% vs. 48% da soja).

Depois do americano, o produtor brasileiro descobriu o DDG. Até o presente momento, o DDG produzido no Brasil era integralmente consumido internamente, particularmente na engorda de bovinos confinados, mas com potencial, também, para alimentar suínos, aves e peixes, substituindo parcialmente o grão de milho e o farelo de soja.

O DDG substitui apenas parcialmente o grão de milho e o farelo de soja. Embora seja um subproduto do milho, ele substitui com maior eficiência o farelo de soja do que o grão de milho, dada sua concentração maior de proteínas do que de carboidratos. O DDG não deve ser disponibilizado como única fonte alimentar na dieta dos animais. Recomenda-se utilizar não mais do que 20% do peso seco da ração animal com DDG, para evitar excesso de fósforo e enxofre no organismo dos animais.

O DDG brasileiro acaba de candidatar-se a produto de exportação. Em dezembro de 2019 foi realizada a primeira exportação do produto para a Inglaterra: 27,5 mil toneladas. O produto provém de usina de Sinop-MT e estranhamente foi exportado pelo Porto de Paranaguá, destino mais distante de Sinop do que os que os portos do Norte e Nordeste.

Os Estados Unidos dominam o mercado de DDG, cuja produção iniciou há mais de 25 anos. Atualmente exporta mais de 40 milhões de toneladas (Mt). O Brasil tem vocação para atender parte desta demanda mundial. Esta primeira exportação constitui-se em teste para avaliar este potencial, mas a expectativa é de que as exportações futuras do produto se consolidem como rotina, caso se concretizem os mega projetos de usinas de etanol do MT, projetadas para produzir 2.0 Mt anuais de etanol e 1,2 Mt de DDG, segundo informa o Rabobank.

A produção e a exportação de DDG têm boas perspectivas para o Brasil. O tradicional baixo preço do milho no Brasil Central estimula as usinas de cana da região a converterem-se em usinas flex para aproveitar o excedente de milho da região, mantendo-as operativas na entressafra da cana. Isto sem considerar as usinas totalmente voltadas para etanol de milho, que já estão em operação ou em construção.

Até recentemente, o milho no Centro-Oeste (MT, em particular) estava desvalorizado, sem retorno financeiro para o produtor. O grão não tinha preço e a agregação de valor era pouco explorada. Depois dos investimentos nas usinas de etanol, o milho passou a ser visto como uma boa alternativa de matéria prima para produção do biocombustível.

O DDG brasileiro está apenas começando seu protagonismo. Há um enorme potencial de produção a ser explorado. A soja ainda crescerá no Centro-Oeste, principalmente por conta da renovação de pastagens. O milho safrinha será puxado pela leguminosa e o DDG crescerá junto. O agropecuarista brasileiro também terá ganhos com a engorda do boi usando o DDG e o excedente será exportado. A produção e exportação de carnes brasileiras será aumentada com este novo alimento.

Vários países já demonstraram interesse em adquirir o DDG brasileiro. Mais um negócio para o agro do Brasil.

Amélio Dall’Agnol e Walter Fernandes Meirelles, pesquisadores da Embrapa Soja e da Embrapa Milho e Sorgo