Faz algumas décadas que a China assumiu o posto de maior parceiro comercial do Brasil, distanciando-se a cada ano de outros grandes parceiros comerciais, como Estados Unidos e Argentina. No encerramento de 2019, a China figurou como destino de mais de US$ 26 bilhões em exportações brasileiras, ante apenas US$ 12 bilhões do segundo colocado, os EUA, principal parceiro do Brasil durante décadas.

A China tenta reconquistar o status de potência global após dois séculos de decadência, período que inclui a gestão Mao Tse-tung, que sonhou criar um paraíso proletário no país. Mas o que veio mesmo foi um inferno de fome e miséria, que só começou a mudar a partir do término da gestão do grande líder comunista e início da gestão de Deng Xiaoping - arquiteto e patriarca da nova China.

Além de mudanças estruturantes, Deng Xiaoping viu na tecnologia uma importante ferramenta para alavancar o país destroçado, promovendo-o à atual posição de país tecnológico, prestes a ameaçar a hegemonia americana nesse campo. O paradoxo dessa transformação econômica é que ela ocorreu sob o comando do partido comunista que fracassara há apenas algumas décadas sob Mao Tse-tung, mas triunfou sob a gestão dos seus sucessores, que praticaram uma economia de mercado, denominada por eles de “socialismo com características chinesas”.

O avanço socioeconômico vivenciado pela sociedade chinesa ao longo de meio século foi espantoso: a renda per capita da população saltou de US$ 24,4 em 1978 para US$ 3.700 em 2019. Mais de 500 milhões, de um total de 1,4 bilhões de chineses, deixaram a zona rural para viver em regiões urbanas, viabilizando o desenvolvimento industrial do país.

Outra novidade da China é o surgimento de uma pujante classe média - estimada em 400 milhões de pessoas – que dá sustentação ao consumo doméstico de bens de consumo. Nesse contexto, o País precisará de parceiros comerciais como o Brasil para suprir a suas necessidades por produtos agrícolas, principalmente de soja. Estima-se que dentro de uma década a demanda do grão alcance 126 milhões de toneladas (Mt), sendo 96,1 Mt provenientes do Brasil, ou 76,2% do total importado.

A China não quer apenas comprar soja e carnes do Brasil, também quer vender os insumos para produzi-los, razão pela qual adquiriu recentemente a empresa Syngenta de agrotóxicos e a Nidera de sementes.

Importante tratar bem os chineses, pois eles não só são importantes consumidores de produtos brasileiros, como são importantes investidores na economia do Brasil.

A China é um player fundamental para o agronegócio mundial, com destaque para o Brasil.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja