Enquanto o país e o mundo atravessam a pandemia do coronavírus, levando o PIB brasileiro de 2020 a uma queda estimada de até 10%, o PIB agropecuário, segundo estimativas do Ipea, deverá crescer 2,4%. É a economia brasileira, mais uma vez, respirando com a ajuda do agronegócio. O setor cresce, apesar de os demais setores da economia estarem em queda. Mas não será apenas na temporada de 2020 que o agronegócio sustentará a economia do Brasil. Isto vem acontecendo há décadas.

A pujança da produção agrícola brasileira impressiona pela eficiência, apesar da baixa fertilidade natural de boa parte dos solos agricultáveis do país. O sucesso se deve, em boa medida, aos aportes tecnológicos introduzidos nos seus processos produtivos. A mais recente investida tecnológica brasileira refere-se ao desenvolvimento e uso de bioinsumos, cujo programa foi lançado pela ministra Tereza Cristina, da Agricultura, em 27 de maio de 2020. O decreto que instituiu o Programa Nacional de Incentivo aos Bioinsumos já está vigente e foi publicado no Diário Oficial da União, ainda em maio.

Na abertura do evento que lançou o programa, a Ministra proferiu a frase que dá título a este artigo e qualificou o desenvolvimento e uso de bioinsumos no Brasil como parte de uma estratégia tecnológica tão importante quanto foram o sistema plantio direto e a integração lavoura/pecuária, tecnologias que trouxeram avanços sem igual para a agropecuária nacional.

Bioinsumos, como o próprio nome sugere, são insumos biológicos de origem animal, vegetal ou microbiana, que interferem positivamente no desenvolvimento e produção agropecuária, sistemas de produção aquáticos ou florestais. A ministra considera que a rica biodiversidade do solo brasileiro deveria ser melhor aproveitada para o desenvolvimento e produção de produtos biológicos utilizados no controle das pragas agrícolas e no desenvolvimento e nutrição das plantas.

Os principais bioinsumos são à base de microrganismos (vírus, bactérias e fungos), mas também existem vários macro-organismos (insetos benéficos, predadores, parasitoides, ácaros predadores, etc.), semioquímicos (feromônios) e bioquímicos, todos muito interessantes na busca por uma produção agrícola mais dinâmica e competitiva. São importantes aliados para auxiliar nos sistemas de produção e diminuir o uso de insumos químicos, cujo uso inadequado ou excessivo leva a desequilíbrios que aumentam ainda mais a dependência por insumos sintéticos.

Vários insumos biológicos já são bastante utilizados pela agricultura orgânica no Brasil, mas a atual gestão do Mapa quer mais e tem disposição para impulsionar sua utilização em larga escala na agricultura convencional e com isto reduzir os custos de produção, a poluição ambiental e a dependência de agrotóxicos e fertilizantes importados.

O bioinsumo que mais impacta economicamente a agricultura brasileira é o inoculante à base de bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Bradyrhizobium para a soja, capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e transformá-lo em nitrogênio amoniacal, que é a forma absorvida pelas plantas. O custo do inoculante que substitui o fertilizante nitrogenado mineral é muito baixo frente aos benefícios que traz, resultando na economia anual de bilhões de dólares nos cerca de 38 milhões de hectares cultivados com a oleaginosa no Brasil.

O setor de bioinsumos movimenta perto de R$ 1.0 bilhão por ano no Brasil e cresce a uma taxa anual superior a 10%. Entre 2015 e 2019, 40 novas empresas produtoras de bioinsumos ingressaram no setor no país, que, juntamente com as que já estavam operando antes de 2015, no final de 2019 totalizavam 80 biofábricas, indicando que mais da metade delas existem há menos de 5 anos. O registro de novos produtos biológicos, por sua vez, cresceu de apenas 3, em 2011 para 106, em 2018.

A Embrapa conta com bancos de germoplasma microbianos destinados a preservar e caracterizar agentes de controle biológico de pragas e doenças, fixadores de nitrogênio e promotores de crescimento de plantas. São mais de 10 mil isolados de bactérias, fungos e vírus para controle biológico e mais de 14 mil isolados fixadores de nitrogênio, solubilizadores de nutrientes, e promotores de crescimento de plantas. É um patrimônio valioso que pode ser usado na produção de bioinsumos, vários dos quais já se encontram no mercado.

A produção de insumos biológicos não é tarefa fácil. Características como pureza e concentração mínima do microrganismo de interesse são imprescindíveis para o sucesso de um bioinsumo. Produções sem o devido controle de qualidade podem impor riscos sanitários ao usuário e ao consumidor final, caso ocorram contaminações por microrganismos patogênicos.

Amélio Dall’Agnol e Marco Antonio Nogueira, pesquisadores da Embrapa Soja