Imagem ilustrativa da imagem AGRONEGÓCIO RESPONSÁVEL: Produção e consumo de orgânicos no Brasil e pelo mundo
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A produção e o consumo de produtos orgânicos pelo mundo começaram no início do século XX e apenas alcançou o Brasil no final da década de 1970, mas com intensidade maior a partir do século XXI, principalmente nos últimos dez anos. Eram 2.747 produtores em 2012 e em 2017 totalizam 22.746, segundo registros do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento): aumento anual médio de 20% a 30% no período. A liderança é do estado do Paraná, que aumentou em 13 vezes a produção de orgânicos nos últimos nove anos.

A produção e o consumo de alimentos orgânicos podem constituir uma nova onda da agricultura brasileira, estimulada por iniciativas oficiais, como o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e o incentivo do governo ao uso desses produtos na merenda escolar. Contudo, existe o desafio de capacitar técnicos em tecnologias agroecológicas para dar suporte ao agricultor e desenvolver um mercado que pague um prêmio pelo produto com valor agregado. Como a atividade pode demandar mais mão de obra – hoje escassa - essa é uma dificuldade que o produtor de orgânicos pode enfrentar.

Existem alguns gargalos tecnológicos, um dos principais, é o controle de plantas daninhas e outros que são comuns para produtores orgânicos e não orgânicos como logística e falta de assistência técnica (no caso dos produtores familiares). Em suma, é muito mais fácil produzir alimentos convencionais, embora eles geralmente sejam comercializados no mercado com valores menores.

A primeira coisa que um agricultor interessado em produzir produtos orgânicos deve fazer é buscar informações junto a organizações especializadas - públicas ou privadas - para conhecer os passos que os levará a obter o certificado de conformidade orgânica e ter sucesso.

A Lei nº 10.831 de 2003 estabeleceu o marco regulatório sobre agricultura orgânica no Brasil. A legislação e a institucionalização de políticas públicas decorrentes desse arcabouço legal projetaram o Brasil internacionalmente como um dos países que mais avançaram em favor da produção e da comercialização de produtos orgânicos. Porém, uma das limitações para maior avanço da produção no País se refere aos dados imprecisos e assistemáticos sobre a produção e o consumo interno. A ausência de informações quantitativas confiáveis dificulta a elaboração de um plano estratégico com ações de longo prazo.

O modelo de agricultura baseado em uso intensivo de insumos químicos, sementes transgênicas e mecanização, se tornou prioridade na agenda macroeconômica e na política agrícola brasileira. O Mapa e o FiBL (Research Insitute of organic agriculture) calculam que a área orgânica no Brasil em 2017, ultrapassou 1,13 milhão de hectares ou 0,4% da área agricultável brasileira.

Segundo a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam, em Inglês), em levantamento realizado no período de 2000 a 2017 em 181 países, a área agricultável mundial destinada a cultivos orgânicos aumentou 365%, quase 10% ao ano. Em termos absolutos, saltou de 15 milhões de hectares para 69,8 milhões de hectares. Havia cerca de 253 mil produtores orgânicos em 2000, que passaram para quase 3 milhões, em 2017, ou seja, um crescimento médio anual de 15,3%. Oceania e Europa foram os protagonistas no incremento da área.

Também, o volume mundial de vendas de produtos orgânicos no varejo era de € 15 bilhões em 2000. Em 2017, esse montante saltou para € 92,1 bilhões, o que significou um aumento de 500% no período, ou um crescimento médio anual superior a 11%. Estados Unidos e Europa foram os protagonistas, que, conjuntamente, responderam por 90% do consumo, apesar de deterem apenas ¼ da área de orgânicos do mundo. Nesse cenário, países como Austrália, Nova Zelândia e nações da América Latina e da África (detentores de ¾ partes da área), produzem quase exclusivamente para exportar para esses mercados.

A Austrália, com o cultivo atual de 35,65 milhões de hectares, é destacadamente o maior produtor mundial de orgânicos, centrados na criação extensiva de gado em terras áridas e semiáridas do interior do país, gerando a carne bovina orgânica, seu principal produto de exportação. Para ilustrar, no período 2007 a 2017, sua produção de orgânicos cresceu 197% ou 11,5% ao ano.

A expectativa é de crescimento futuro mais acelerado, dada a exigência cada vez maior dos consumidores por produtos e alimentos obtidos/ produzidos de forma sustentável. Lembrando que sustentabilidade tem como pilar 3 elementos: meio ambiente, impacto social e economia. Portanto, um sistema sustentável é aquele que incentiva a conservação do meio ambiente, o bem-estar social e o ganho econômico, de modo que não coloque em risco os dois primeiros elementos.

O mercado consumidor ainda é predominantemente elitizado, mas está a caminho de uma melhor socialização dos produtos orgânicos. Com isso, o Brasil tem a oportunidade de ser um dos principais protagonistas dessa mudança.

Amélio Dall’Agnol é pesquisador da Embrapa Soja em Londrina

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