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. | Foto: Ricardo Chicarelli-6/12/18

A liderança mundial da produção de soja esteve com a China desde os primórdios do seu cultivo até o final da década de 1950, a partir de quando os Estados Unidos (EUA) assumiram a dianteira, somente agora ameaçada pelo Brasil. Segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil tende a ser líder da produção mundial de soja em 2019/20, com colheita estimada de 123 milhões de toneladas (Mt), 10 Mt a mais do que os estimados 113 Mt dos EUA. A concretização deste prognóstico confirmaria uma queda de 11 Mt na safra estadunidense, justificada pelo plantio de uma área menor - dado o excesso de chuvas no período mais indicado para o estabelecimento da cultura (maio/junho) - e pela queda da produtividade resultante da semeadura fora da melhor janela.

Segundo o USDA (20/6/19), cinco dias após encerrar-se a melhor janela para a semeadura da soja, apenas 77% da área reservada para o seu cultivo estava estabelecida, contra 93% na média dos cinco anos anteriores. Isto deixa cerca de 8,0 milhões de hectares de soja para serem plantados fora da sua melhor janela o que deve desfavorecer a produtividade. Além disto, o atraso postergará a colheita, que poderá ocorrer em meio a geadas e/ou neve, afetando a qualidade do grão e seu preço. Muita contrariedade para o produtor americano que já sofre com o conflito com os chineses.

Quanto à consolidada liderança do Brasil nas exportações de soja, em 2018 o país exportou 83 Mt contra 48.3 dos EUA. Para a presente temporada, a expectativa é de que o Brasil exporte 75 Mt ante 53 Mt dos norte-americanos, estes certamente contrariados com a disputa comercial com os chineses, para quem estão exportando menos, resultando no acúmulo de estoques, os quais promovem a queda nos preços e a rentabilidade do agricultor.

O esperado crescimento da produção brasileira de soja na temporada 2019/20 (36,3 Mha) baseia-se na expectativa de clima favorável e aumento da área plantada em cerca de 1,1% - o menor dos últimos 13 anos – crescimento médio esse que foi de 5,2% e 3,5% nos últimos 10 e 5 anos, respectivamente. O estímulo do Brasil para o cultivo de mais soja está relacionado ao bom preço aos produtores pelo grão, em razão dos prêmios de exportação incentivados pela preferência chinesa pela soja brasileira, pela apreciação do Dólar frente ao Real em agosto e pelo maior consumo interno de soja para o atendimento da crescente demanda externa por carnes – da China, principalmente, afetada pelo sacrifício de milhões de suínos dizimados pela Peste Suína Africana.

Com o objetivo de reduzir sua dependência externa no fornecimento de soja, a China vem oferecendo estímulos oficiais para expansão da área cultivada com soja em seu território, buscando reduzir sua dependência de fornecedores externos – EUA, especialmente. Mas não há grandes áreas disponíveis para incrementar a produção da oleaginosa no país asiático, que dependerá de trade off com outras culturas - milho, principalmente. Porém, a China deixou de ser autossuficiente no cereal e tem apresentado aumentos crescentes na importação de grãos de milho. Dito de outro modo, tem-se um cenário complicado para o país asiático ampliar a sua produção de soja.

Há muitos anos que o Brasil persegue os EUA na busca pela vanguarda na produção da soja, o grão cuja demanda mais cresce em razão da sua riqueza em proteínas, a principal matéria prima utilizada na formulação de rações que alimentam os animais domésticos produtores de carne.

O Brasil se consolidou como o maior exportador global de soja durante a década atual e, considerando o cenário descrito, caminha para consolidar-se, também, como o principal produtor mundial da oleaginosa.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja