É inegável a contribuição dada pela China ao desenvolvimento da economia brasileira, no último meio século. O gigante asiático era um ator secundário no comércio exterior do Brasil algumas décadas atrás e converteu-se no principal parceiro comercial do país, absorvendo entre 20% e 30% das nossas exportações, que, infelizmente, se concentram em produtos com baixo valor agregado, principalmente commodities agrícolas e minerais (minério de ferro e soja em grão, principalmente). Mesmo assim, sem a demanda chinesa por esses produtos, seus preços de mercado teriam sido menores e o Brasil não teria logrado os superávits comerciais registrados nas últimas décadas. Sem os dólares auferidos com as exportações para a China, o Brasil seria um país pior, porque muito mais pobre.

E a Índia, nosso potencial futuro grande parceiro comercial! Recentemente, a economia da Índia tem crescido a um ritmo muito superior ao do Brasil , porém, a política de desmonetização do país pode desacelerar seu crescimento econômico. Caso contornar este problema e sua economia mantenha elevadas taxas de crescimento, a demanda do país por bens de consumo pode crescer da forma como cresceu na China em décadas recentes. Alguns especialistas dizem que, em mais uma década, a China terá estabilizado sua demanda de consumo e espera-se que a Índia possa carear a demanda não mais absorvida pela China, caso o programa de modernização econômica indiano em curso seja bem sucedido.

A China era um ator secundário no comércio exterior do Brasil até algumas décadas atrás
A China era um ator secundário no comércio exterior do Brasil até algumas décadas atrás | Foto: istock

O PIB indiano é ainda muito baixo em relação ao chinês e a renda per capita também. Mas, a China de 30 anos atrás não era muito diferente da Índia de hoje. O PIB indiano superou recentemente o do Brasil e, segundo estimativas do Banco Goldman Sachs, poderá superar o de países europeus como França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Rússia e Japão até 2035, quando será a 3º maior economia do planeta. Em 2050 a Índia poderá ultrapassar o PIB dos EUA e converter-se na segunda economia mundial.

A Índia é o 2º país mais populoso do planeta, depois da China, com cerca de 1,4 bilhões de habitantes e metade da população ainda depende da agricultura para sobreviver. A Índia é o 3º maior produtor global de grãos e possui o maior rebanho bovino do planeta. A cultura religiosa impede o país de ser grande produtor e consumidor de carnes, mas não de disputar a liderança no comércio exterior com Brasil e Austrália. A Índia não produz e nem importa carne suína, mas é o 5º produtor e consumidor da carne de frango.

Existem indícios que a próxima década poderá ser a da Índia no agronegócio, que ocuparia o espaço que foi da China em décadas recentes. Por causa dos seus avanços econômicos, as agências Standard & Poors e Moodys outorgaram o Nível de Investimento ao país em 2003, indicando que o país se tornou um lugar seguro para receber investimentos com capital estrangeiro.

Caso o significativo crescimento do PIB nacional seja mantido, isto incorrerá no aumento da renda per capita, o que poderá criar mudanças nos hábitos de consumo dos indianos, como a diminuição da demanda pelo consumo de grãos (arroz, trigo, pulses e milho) e aumento da demanda por proteínas animais (carnes, produtos lácteos e ovos). Com isto, a Índia precisaria do Brasil, importando soja em grãos e milho ou carnes.

O agronegócio brasileiro poderá respirar aliviado e continuar carregando o piano da economia brasileira, caso se concretizem as previsões positivas sobre o mercado indiano, potencial grande consumidor de produtos brasileiros. Mas seria desejável que, diferentemente do que ocorreu no comércio bilateral com a China, nossas exportações para o novo parceiro não privilegia tanto as commodities, hoje favorecidas, infelizmente, pela Lei Kandir, que as isenta de taxas de exportação, que são cobradas dos produtos industrializados.

Amélio Dall’Agnol, engenheiro agrônomo

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