Desde muito criança ouço comentários sobre a suposta cobiça estrangeira pela posse da Amazônia, a qual poderia ser internacionalizada. Nunca, no entanto, soube de algo concreto que confirmasse tais ambições. Não restam dúvidas de que esse território justifica variados desejos, tanto de brasileiros quanto de estrangeiros. Nessa gigantesca floresta concentra-se a maior biodiversidade do planeta (micro-organismos, plantas e animais), além de minerais variados.

No entanto, justificam-se as reclamações da comunidade internacional quando, comprovadamente, ela identificar mal feitos no manejo desse bioma por parte do Brasil. A Amazônia é brasileira, mas nos foi dada por empréstimo. Temos o direito de usufruir das suas benesses, mas também temos a obrigação de preservá-la para usufruto da atual e das futuras gerações. Recentemente o Brasil tem sido alvo de críticas da comunidade internacional por supostos desmatamentos e queimadas ilegais. A crítica não foi bem recebida pelas autoridades brasileiras, que reagiram sem reconhecer que nem tudo está bem com a nossa Amazônia.

Mas, se por um lado nosso país é merecedor de críticas pelo tratamento dado à sua privilegiada natureza, também é verdade que por vezes recebe críticas injustas sobre o mesmo tema. Afinal de contas, 66,3% do nosso território ainda é área preservada, com predominância da vegetação nativa. Dos 30,2% do território brasileiro explorado pela agropecuária, apenas 9% são lavouras e florestas plantadas. Os restantes 21,2% são pastagens nativas ou cultivadas - boa parte degradadas. A recuperação dessas pastagens aumentaria a capacidade de lotação bovina e liberaria espaços para a agricultura, evitando assim, mais desmatamentos.

Algo que muitos críticos do Brasil desconhecem e, se sabem, preferem fazer-se de surdos, é que 20,5% do território brasileiro é preservado dentro das propriedades particulares, sem direito a ressarcimento algum. Não é motivo para lamentos, pois a produção agrícola brasileira se manteve crescente nos últimos anos. Além disso, o Brasil não tem desertos como acontece com quase todos os grandes países: China, Austrália e Estados Unidos, por exemplo. Quase todo o território brasileiro é agricultável e parte deste está apto para estabelecer duas safras por ano. Em locais onde a irrigação é uma opção viável e sustentável, amplia-se a possibilidade para o estabelecimento de duas safras em uma mesma área ou, até mesmo, para a instalação de uma terceira safra anual, tornando a produção ainda mais eficiente.

O Brasil é exemplo de eficiência produtiva, particularmente em regiões tropicais com baixa latitude, e caminha para tornar-se o maior provedor de alimentos do planeta, sem mais desmatamentos para aumentar a área cultivada. Como exemplo, de 1990 a 2019, com ganhos expressivos de produtividade, a produção de soja cresceu 512% ante 212% da área e a produção de milho aumentou 319%, ante apenas 29% na área. A produção do arroz cresceu 29%, mas com área 40% menor, o mesmo acontecendo com o feijão, que teve sua produção aumentada em 30,4% mas com área 56% menor.

Muitos consideram que a Amazônia é um valioso cheque ao portador. Mas em decorrência do robusto desenvolvimento de tecnologias de produção da agricultura nacional, o Brasil não precisa descontá-lo.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja