A pandemia do novo coronavírus também está sendo marcada pela solidariedade e ações de interesse social, demonstradas de diversas formas e beneficiando as pessoas de várias maneiras. Em Londrina, um programa de voluntariado foi lançado pelo poder público municipal para ações contra a Covid-19, conectando quem pode ajudar com aquele que precisa, com as pessoas colocando seus dons e capacidade a serviço.

A enfermeira Sueli da Silva Paulino trabalha na avaliação e triagem em uma UBS: "Estamos ajudando nossa população, o nosso patrimônio"
A enfermeira Sueli da Silva Paulino trabalha na avaliação e triagem em uma UBS: "Estamos ajudando nossa população, o nosso patrimônio" | Foto: Arquivo pessoal

Entre as atividades estão apoio emocional, orientação psicológica e auxílio nas unidades de saúde. A enfermeira Sueli da Silva Paulino não teve receio de fazer a inscrição no programa e se colocar na linha de frente de combate à Covid-19. Sua colaboração tem sido no atendimento de casos suspeitos, avaliação e triagem na UBS (Unidade Básica de Saúde) do Panissa, na zona oeste. O posto é um dos referenciados no município para recepção de síndromes respiratórias.

Atualmente lecionando, Paulino viu a oportunidade de somar após as aulas serem suspensas. "Amo ser enfermeira. Faz pouco tempo que saí da assistência e quando as aulas pararam vi uma forma de ajudar. Se não tivessem me chamado aqui, ia para São Paulo ajudar”, garantiu. Segundo a enfermeira, por mais que muitas informações estejam sendo veiculadas em diferentes meios, a população ainda apresenta dúvidas sobre a doença, fato que tem notado no dia a dia.

O apoio no atendimento é realizado todas as segundas, quartas e sextas-feiras pela manhã. “O fato de uma pessoa querer se doar como voluntária mostra que ela faz isso com toda a capacidade. Estamos ajudando nossa população, o nosso patrimônio, agregando conhecimento ao ajudar. Todos os voluntários estão de parabéns, pois, fazem acontecer”, felicitou.

BENEFÍCIO MÚTUO

O psicólogo Elton Cristiano Benfatti ficou sabendo do projeto de voluntariado por meio de um grupo de WhatsApp e não pensou duas vezes em se inscrever. “Me formei recentemente, não consegui trabalhar ainda e quando se escolhe a profissão de psicólogo é em prol do outro. Temos uma visão voltada ao próximo”, destacou. Durante a formação também prestou serviços comunitários. Benfatti se colocou à disposição e tem atendido pessoas da terceira idade, cujos dados são repassados pela secretaria municipal do Idoso.

O psicólogo Elton Cristiano Benfatti atende pessoas da terceira idade
O psicólogo Elton Cristiano Benfatti atende pessoas da terceira idade | Foto: Arquivo pessoal

São de duas a três ligações por dia, quando faz escuta ativa dos anseios e angústias dos idosos. Posteriormente preenche ficha com as informações colhidas e apontamentos pessoais. O documento é enviado à secretaria. “Os idosos relatam muito que se sentem sozinhos e também falta das atividades dos centros de convivência”, contou. Se necessário faz orientações. “Como caminhar, mesmo que seja dentro de casa, para mudar o ambiente, não ficar parado”, exemplificou.

De acordo com o psicólogo, o benefício está sendo mútuo. “Estou me ajudando, pois, também fico em isolamento. A gratidão das pessoas é muito grande”, valorizou. Benfatti ainda colabora como voluntário num programa em que atende profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate ao coronavírus de outras localidades do País por videoconferência.

EXPERIÊNCIA RICA

Com 20 anos de experiência na área da assistência, a pedagoga e assistente social Maria Cristina Silva tem feito contato com pessoas acima de 80 anos para identificar suas necessidades e encaminhar para o município, que direciona para a rede de serviço. “Ser voluntário é uma experiência ímpar. Cada atendido nos passa uma lição de vida”, resumiu. “Tem idoso que liguei para perguntar dados específicos e contou a vida toda”, celebrou.

Tendo como exemplo o pai, Waldir Silva, Maria faz ações voluntárias desde a década de 1980. “Contava história na pediatria de um hospital da cidade e desde então não parei. Me dedico com muito amor quando sou chamada”, destacou. “Madre Tereza de Calcutá costuma dizer que o importante não é o que se dá, mas o amor que coloca em tudo que fazemos”, mencionou.

A assistente social acredita que esta pandemia tem feito as pessoas se unirem mais e deixar de lado o individualismo tão presente na sociedade. “Estamos nos dispondo a fazer um trabalho e não esperamos nada em troca. Se as pessoas parassem para dispor seu tempo um pouco com os outros, poderiam aprender muito. É uma experiência rica.”

INSCRIÇÕES

Desde que o programa de voluntariado municipal foi lançado, há cerca de um mês, mais de 300 pessoas se inscreveram pelos canais disponíveis: o site da Prefeitura de Londrina (londrina.pr.gov.br) e o 0800-400140. O perfil, formação e faixa etária de quem vem se dispondo a ajudar são variados, mostrando que para “abraçar” uma causa não existe distinção. “Ter muitos inscritos tem nos trazido acalanto”, valorizou Rosilene Machado, diretora-geral da secretaria municipal de Saúde.

Quando se voluntaria, a pessoa precisa informar escolaridade, dados para contato, disponibilidade, os serviços que deseja atuar e pode ainda indicar as unidades de saúde próximas de sua residência. Indivíduos que pertencem aos grupos de risco da Covid-19, como idosos e doentes crônicos, não podem participar.

CADA SECRETARIA

Posteriormente, os inscritos são distribuídos para as secretarias envolvidas, que mantém a interação conforme a demanda. A secretaria municipal do Idoso, por exemplo, é responsável por realizar a seleção e orientação de voluntários nas áreas do serviço social e psicologia.

“Fazemos a orientação da parte técnica para delimitar a forma de atendimento. Preferencialmente, os contatos dos voluntários são feitos com idosos acima de 80 anos, que moram sozinhos e temos cadastrado. Porém, tem chegado pedidos de apoio psicológico também pelo 0800”, explicou Cleir Brandão, gerente de Atenção à Pessoa Idosa.

Um serviço que pode ser oferecido, mas que ainda não tem demanda, é a entrega de medicamentos para idosos em isolamento. “Estamos estabelecendo o fluxo para isso. A secretaria de Saúde nos passou os dados dos vencimentos para término dos medicamentos dos idosos”, afirmou Brandão.

DESISTÊNCIA

Muitos inscritos acabaram desistindo, principalmente os acadêmicos. As explicações são o retorno das aulas pelo ensino a distância e antecipação da colação de grau. Na secretaria de Saúde, as principais ofertas de colaboração são em campanhas de vacinação e administrativamente nas UBS (Unidades Básicas de Saúde).

“Conforme nossas necessidades forem mudando, entraremos em contato novamente com os voluntários a partir da expectativa que elencaram e veremos se têm disponibilidade. Semanalmente fazemos algum tipo de contato para ofertar alguma forma de voluntariado”, ressaltou Machado.

SERVIÇO - As pessoas ainda podem se voluntariar pelo site ou pelo telefone 0800 400 140, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.