Em viagens ou no dia a dia, o servidor público Elzo Kerson Ravanelli, 59, fazia questão de usar a camisa do LEC (Londrina Esporte Clube), uma de suas grandes paixões. Natural de São Manuel, no interior de São Paulo, trabalhou em Jabuticabal (SP), onde conheceu Maria José, com que tem teve um filho e foi casado por 40 anos. Se mudou para Londrina quando o filho tinha um ano e em solo paranaense passou a maior parte da vida.

Imagem ilustrativa da imagem Vítima da Covid-19, servidor público era apaixonado pela neta e pelo LEC
| Foto: Arquivo familiar

Farmacêutico formado, sempre trabalhou na área de saúde. As últimas três décadas foram de dedicação no laboratório de urgência do HU (Hospital Universitário). De acidentes a outras doenças, todas os exames passavam por Ravanelli e os colegas. Com uma rotina ativa, acabou tendo a trajetória interrompida pela Covid-19. Foi a 12º vítima do coronavírus na cidade, falecendo em 25 de abril.

Foram 19 dias internados numa UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de hospital privado, em coma induzido, lutando pela vida e buscando aquilo que sempre fez parte de sua rotina: a saúde. Os sintomas começaram no final do março, com gripe, perda do apetite e tosse seca. Foi nesta época que o vendedor Elzo Ravanelli Neto viu o pai pela última vez.

“Fui na casa dele, fiquei no portão e estava tossindo bastante. Não conseguia ficar menos de 20 segundos sem dar uma tosse. Estava bem abatido. Disso evoluiu para falta de ar e foi internado. No hospital não dava para entrar e ver e depois que faleceu não pôde ter velório”, lamenta. “Quando começou a situação do vírus no Brasil ficamos preocupados. Era tudo muito novo e as orientações e protocolos foram chegando e sendo adotados aos poucos.”

PARCERIA

Neto conta que o pai sempre foi um grande parceiro e companhia certa para ir ao Estádio do Café. “Íamos juntos ver jogo do Londrina, por mais que o time não estivesse bem. Ele gostava muito. Se eu viajava ele ia com a minha mãe. Quando era pequeno me levava para entrar em campo com os jogadores”, relembra.

Do pai também herdou o gosto pela música. Estavam com ingressos comprados para o show do Kiss, que seria realizado em Ribeirão Preto (SP) em maio e acabou adiado para novembro. “Quando era criança tinha fitas de VHS e peguei uma do AC/DC, sentei no quarto e fiquei assistindo. Ele chegou e me questionou por que estava vendo e falei que gostava do som. Ele deu risada e fechou a porta. A partir disso gostei de rock”, conta. “Fazíamos cerveja artesanal e ouvíamos música juntos.”

SAUDADE

Outro grande amor de Elzo Kerson Ravanelli era a neta, Luiza, de seis anos. “Ele era bem reservado, só que a hora que via a minha filha desmoronava, virava uma seda. Para a Luiza, o avô virou uma estrela no céu”, cita. Dois meses depois da morte pela Covid-19, a família ainda está aprendendo a conviver com a ausência e a dor saudade de alguém que marcou a vida de muita gente. Além de esposa, filho, nora e neta, Elzo deixou a mãe e o irmão, Inês e Klever Ravanelli, que moram em São Paulo.

“Não tem um dia em que a gente não chora. Vi meu pai cerca 20 dias antes de falecer e não tive como despedir dele. Isso foi muito doloroso, cruel. Não consegui assimilar ainda a mensagem que vou tirar de tudo isso, mas vai mudar muito nossa vida e rotina”, emociona-se. “Minha família está em isolamento, se cuidando e vejo pessoas indo jogar futebol, fazendo churrasco. Não consigo compreender o que estamos vivendo (com essas atitudes)”, avalia.