Uma cidade do interior do Paraná, com pouco mais de 17 mil habitantes e conhecida por ser lar de muitos descendentes de japoneses, vem sendo destaque Brasil a fora. Assaí, na Região Metropolitana de Londrina, foi eleita como uma das 21 cidades mais inteligentes do mundo pelo instituto canadense ICF (Intelligent Community Forum). Com um orçamento anual de R$ 60 milhões e muitas ideias para tirar do papel, a cidade criou há dois anos o projeto Vale do Sol, que uniu secretarias em prol do desenvolvimento econômico e social da cidade.

Premiação

A lista com as 21 cidades mais inteligentes do mundo foi divulgada no dia 23 de fevereiro; em junho, vão ser selecionadas as sete finalistas; e em outubro será definido o resultado final, elegendo a cidade mais inteligente do mundo. A pesquisa leva em conta o que as cidades produzem de inovação para gerar empregos e a capacidade que elas têm de se abrir para o mundo.

Além de Assaí, Ponta Grossa e Curitiba são as únicas cidades da América Latina a integrarem a lista, que também conta com representantes do Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Cazaquistão, Vietnã, Austrália e Nova Zelândia.

Michel Bomtempo, prefeito de Assaí:  “São coisas caras, mas que nós temos condições de fazer e isso conquistou o mundo”
Michel Bomtempo, prefeito de Assaí: “São coisas caras, mas que nós temos condições de fazer e isso conquistou o mundo” | Foto: Sérgio Ranalli - Editor

Vale do Sol

Michel Bomtempo (PSD), prefeito de Assaí, conta que o responsável por levar o nome de Assaí para o mundo foi o Vale do Sol. Projeto criado há dois anos, traz no nome a história e as ambições da cidade, que quer ser um Vale do Silício no Brasil. O prefeito conta que a cidade apresentou o Vale do Sol nesta primeira etapa do ICF; já para a segunda, eles precisam colocar em prática tudo que foi escrito no papel, com documentação em fotos e vídeos.

Ouça podcast com a entrevista do prefeito Michel Bomtempo à FOLHA.

Abrangendo toda a cidade em um único projeto, que engloba várias ações e setores, da educação até a saúde, a cultura, o esporte e o lazer, o prefeito conta que todos os secretários e suas respectivas pastas têm uma missão. O Passaporte Estudantil, uma escola bilíngue para crianças de 3 a 5 anos e um curso de pilotagem de drone serão as primeiras ações a saírem do papel. O Vale do Sol também envolve a criação de um coworking e de uma rádio, todos abertos para o público.

Um dos projetos que mais orgulha o prefeito, o Passaporte Estudantil vai subsidiar com bolsas a graduação de 100 jovens que concluíram o ensino médio. “Primeiro nós reunimos todos os formandos que ainda não estavam na faculdade para identificar o que eles querem fazer na vida profissional; depois, falamos com a sociedade assaiense para entender de quais áreas eles precisam de profissionais; e, por fim, entramos em contato com as universidade e faculdades da região”, conta. Todos os alunos são de escolas públicas e precisam fazer a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Três cidades do Paraná estão entre as mais inteligentes do mundo

O prefeito explica que esse tipo de projeto é o que vem fazendo a diferença na cidade: “São coisas caras, mas que nós temos condições de fazer e isso conquistou o mundo”. Segundo ele, como é um planejamento a longo prazo, eles precisam manter uma capacidade financeira. “Todas as cidades têm dinheiro para investir, quem não tem é porque aplica errado”, destaca.

Apoio de multinacionais

Igor Oliveira, secretário municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação de Assaí, explica que o sucesso do projeto veio com o olhar para as políticas públicas como um conjunto e não em blocos independentes entre si. Segundo ele, o Vale do Sol conta com apoio e financiamento de 98 multinacionais para o desenvolvimento de outros projetos e programas dentro desse ‘guarda-chuva’ de possibilidades.

O secretário ressalta que, além do ingresso na graduação, eles também vão oferecer cursos pré-vestibulares, acesso à tecnologia e pós-graduação lato e stricto sensu. “Nós estamos só dando educação, mas já criando uma concepção de emprego. Todos esses alunos que vão começar a graduação já vão sair com um emprego”, explica. Como contrapartida, os estudantes vão devolver o investimento para o município em forma de atividades sociais. “É uma forma de manter eles engajados com as políticas públicas”, destaca.

Michel Bomtempo também ressalta que o foco da cidade é distribuir qualidade de vida, que além de tornar a cidade mais inteligente, também faz a população ter mais prazer em viver ali. “A gente faz as pessoas ficarem mais inteligentes através de atos do poder público. Se eu tenho um bom esporte, eu não tenho crianças envolvidas com drogas”, exemplifica.

Ele também ressalta que os 35 agentes comunitários de saúde da cidade vão receber uma motocicleta elétrica para trabalhar de forma mais adequada e eficiente. “Se hoje um agente atende 40 famílias por dia, eles vão passar a atender 70, então quem ganha com isso é a população”, ressalta o prefeito.

Escola bilíngue para crianças

Bomtempo também ressalta que uma escola bilíngue para crianças de 3 a 5 anos está em fase de negociação. “A gente também não descuida da educação básica. Nós queremos que todas as crianças já comecem a subir os degraus desde pequenas”, ressalta. Segundo ele, quando uma criança começa a ir para a escola ela já recebe um tablet do município.

Sobre a escola de pilotagem de drone, ele ressalta que a expectativa é de que as aulas comecem em dois meses. Segundo o prefeito, o curso é gratuito e voltado para o ensino de drones utilizados na agricultura. “A primeira leva de alunos será de filhos dos agricultores da cidade. Essa é uma ferramenta importante, mas que precisa de muito treinamento para poder usá-la”, explica. De acordo com Bomtempo, os alunos vão poder praticar com o drone do município e o curso será ministrado por profissionais do campus de Jandaia do Sul da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Igor Oliveira destaca que todas essas ações, como o coworking público, vão auxiliar na retenção dos profissionais. “A gente formava muito bem os profissionais e mandava para outras cidades e países, então o que a gente quer é criar aparelhos públicos para dar suporte ao trabalho remoto, o que faz com que as pessoas fiquem em Assaí”, esclarece.

Futuro a um passo de distância

“É um orgulho dizer que a cidade de Assaí anda a passos largos. Esse prêmio vai mexer com os quatro cantos do país, levantando questionamentos do porquê Assaí ganhou e não Londrina”, ressalta. Ele destaca o papel fundamental da educação na construção de uma cidade mais inteligente. “Eu tenho absoluta certeza de que a educação é o que pode mover o mundo. É uma ferramenta de mudança que ninguém tira de você”, afirma