Direção do hospital, que funciona há 45 anos, afirma que 99% dos atendimentos são pelo SUS
Direção do hospital, que funciona há 45 anos, afirma que 99% dos atendimentos são pelo SUS | Foto: Divulgação/Hospital São Camilo

O Hospital São Camilo, único hospital de Jataizinho (Região Metropolitana de Londrina) e que funciona há 45 anos, poderá fechar as portas nesta semana. O prazo final apontado pela direção é dia 30 de abril. De acordo com a instituição, os recursos são insuficientes para manter os mais de mil atendimentos realizados mensalmente.

“O hospital é particular, mas atendemos 99,9% SUS (Sistema Único de Saúde). O convênio que existe com o plano de saúde são eventuais consultas com médicos credenciados. Nosso custo hoje é acima de R$ 150 mil e nossa conta está dando R$ 110 mil, ou seja, não está fechando mais”, afirma a diretora administrativa do Hospital São Camilo, Rosalia Sato.

A notícia atinge os mais de 12.600 moradores da cidade, que contam com os serviços de Pronto Socorro e internamento de baixa complexidade da instituição. Uma reunião marcada para a tarde desta segunda-feira (26) irá discutir a situação. O encontro acontecerá entre o prefeito de Jataizinho, Vilsinho Quirino (PDT), representantes do Conselho Municipal de Saúde, vereadores, Ministério Público de Ibiporã e a direção do Hospital Cristo Rei (Ibiporã).

"Uma das saídas de imediato seria encaminhar nossos pacientes de urgência e emergência para Ibiporã", disse o prefeito, apontando como outra medida possível estender o horário de funcionamento das três UBS (Unidades Básicas de Saúde), que atualmente ficam abertas de segunda a sexta, das 7h às 17h. "Dependendo do que será feito, podemos mudar todo esse quadro. Ainda são possibilidades. Devemos buscar uma solução nessa reunião", citou.

DESCREDENCIAMENTO

O prefeito Quirino conversou por telefone com a FOLHA nesta manhã e destacou que foi pego de surpreso com o pedido de descredenciamento do Hospital São Camilo. "Fui comunicado por ofício da Regional de Saúde na semana passada. A gente até escutou algumas conversas sobre fechar, mas todo período eleitoral e início de gestão tem essa conversa de fechar o hospital. Não sou eu que estou fechando. Eles que pediram", afirmou.

A respeito dos recursos repassados pela prefeitura por meio de convênio, o prefeito respondeu que estão em dia conforme a produção. "A secretaria de Saúde confere os plantões e procedimentos realizados pelo hospital e o que se confirma, a gente paga. Estamos pagando uma média de 60 mil para cobrir os plantões, mas o hospital não está comprovando os procedimentos efetuados", garantiu.

Sato detalhou que o hospital recebe cerca de 71 AIH (Autorizações de Internação Hospitalar), que podem ser faturadas até R$ 42 mil. “Temos os serviços de Pronto Atendimento com teto de R$ 12 mil, mas não estamos faturando isso. Tivemos um aditivo no convênio assinado com a prefeitura, mas agora a conta não fecha mais", disse. O aditivo, segundo o prefeito, foi de três meses, no valor de R$ 118 mil. "Eles pediram o descredenciamento do SUS no dia 01 de março e pelos critérios precisam ficar 60 dias", completou.

Segundo a direção do São Camilo, o pedido de descredenciamento do SUS foi comunicado à Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) há dois meses. “Pelo contrato são 60 dias a partir do pedido, então dia 30 agora se encerra o prazo. A Sesa está tentando reverter essa situação, mas depende muito mais da prefeitura do que da Secretaria de Estado. A gente está meio que ‘esgotado’ dessa situação”, comentou Sato.

SESA

Em ofício, a Sesa questiona a possibilidade de o Hospital São Camilo "manter seus atendimentos aos usuários do SUS por tempo superior aos 60 (sessenta) dias previstos no contrato, para que seja possível a reorganização da rede de atenção a saúde aos usuários do SUS". De acordo com o documento, a data de envio do ofício do Hospital São Camilo ao Gabinete do Secretário de Estado da Saúde do Paraná é de 01 de Março de 2021, constante em protocolo aberto em 13/04/2021.

O Hospital atua hoje com 23 funcionários, além dos médicos plantonistas. Os casos suspeitos de Covid-19 são atendidos e encaminhados pelo Samu para os hospitais de referência como a Santa Casa e o HU em Londrina, e o Hospital Cristo Rei em Ibiporã.

"Nós sempre fomos a única referência hospitalar no município. Ficamos triste também pelos funcionários que estão há anos trabalhando aqui, mas estamos nesse impasse desde agosto de 2020. No final do ano, procurei o Conselho Municipal de Saúde para comunicar a intenção de encerramento, tivemos o aditivo de três meses e que está se encerrando agora. Estamos bem conscientes do que estamos fazendo. Um dia a mais do hospital aberto é R$ 6 mil de débito. Todas as nossas expectativas é para o encerramento. Sobre uma possível proposta, vamos avaliar, mas a emoção dos sócios é de realmente não continuar", finalizou a diretora administrativa.

Em resposta à FOLHA sobre a situação do São Camilo, a Sesa afirma que "o hospital irá deixar de atender o SUS, visto que atende poucos pacientes e sem complexidade assistencial. A unidade está cumprindo o prazo legal para encerramento."

(Matéria atualizada em 28/04 às 9h30)

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