O prédio do Antigo Fórum de Londrina, onde atualmente funciona a Biblioteca Pública Municipal Pedro Viriato Parigot de Souza, foi reformado e oficialmente tombado como Patrimônio Cultural do Município recentemente. A edificação foi inaugurada em 1950, em uma cerimônia que reuniu centenas de pessoas, e contou com a presença de diversas autoridades, inclusive do então governador Moysés Lupion, que descerrou a fita inaugural. Só no início da década de 1980, o prédio do antigo Fórum de Londrina foi desocupado e cedido para abrigar a Biblioteca Pública Municipal de Londrina.

Imagem ilustrativa da imagem Uma referência arquitetônica e afetiva de Londrina
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A diretora de Patrimônio Artístico e Histórico Cultural de Londrina, Solange Cristina Batigliana, explica que prédio possui um estilo eclético tardio. Nele é possível observar elementos de base clássica, que já apontam para a geometrização do Art Déco. No entanto não há registros de quem projetou o prédio. Ela ressalta que três personagens são citados em momentos distintos: Antônio Ferreira da Costa, Ângelo Ferraris e Philipp Lohbauer.

Ferraris e Lohbauer são da área da construção e da criação arquitetônica, sendo que o primeiro tinha relação com o Escritório Técnico J. Ficinski, o mesmo citado no documento oficial do município. “Antônio Ferreira da Costa era o juiz responsável pelo Fórum de Londrina. É a pessoa que assina no carimbo da planta. Mas não dá para afirmar qual dos três fez o projeto”, observa.

O parecer do tombamento aponta que o arquiteto alemão Philip Lohbauer não pôde exercer legalmente a profissão até outubro de 1948, quando conseguiu o registro no Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), um ano depois do início das obras do Fórum. Contudo, em seu acervo constavam desenhos para o edifício do Fórum de Londrina. Devido à falta de documentos originais oficiais no nome do autor, mas considerando a existência de um desenho em perspectiva do Fórum assinado pelo Lohbauer, há a possibilidade de ele ter projetado o prédio, O fato de Lohbauer não estar legalmente habilitado compromete a autoria destes trabalhos, em que seu nome aparece apenas em esboços e estudos.

QUARTO PERSONAGEM

Já o livro "Memórias Fotográficas: a fotografia e fragmentos da história de Londrina" traz como executor da obra o construtor Manoel Joaquim Gregório, ou seja um quarto personagem. Segundo um dos autores do livro, Omeletino Benatto, Gregório foi o responsável por essa e outras edificações importantes da cidade, como o prédio do Colégio Mãe de Deus, o Centro de Saúde, o da antiga Prefeitura Municipal, que foi demolido; e o do Cine Teatro Municipal.

PERSPECTIVAS DE PRESERVAÇÃO

“Este ano o prédio completa 70 anos. A atual biblioteca é extremamente relevante, porque é uma das obras mais referenciais de Londrina. O prédio não entra no rol de referências modernistas, mas fica no quarteirão histórico da cidade que tem o prédio da antiga Telepar, do Centro de Saúde, o salão do antigo Grêmio Literário Recreativo Londrinense, a Casa da Criança, atual Secretaria de Cultura, a antiga sede da Sociedade Rural do Paraná e a antiga sede da Associação Médica e o prédio dos Correios”, destacou o secretário municipal de Cultura, Caio Cesaro.

Ele ressaltou que prédios como esses fazem parte da memória e ajuda a contar a história do povo de Londrina. “Existem diversas perspectivas de preservação da memória. Há essa perspectiva arquitetônica, mas tem a perspectiva da vivência das pessoas. Muitas pessoas estudaram lá na biblioteca e outras pessoas se casaram ali enquanto ali foi o Fórum. Aquele ambiente físico também era o espaço em que se guardava os documentos jurídicos. Então quanto mais a gente fala sobre aquele prédio, mais a gente vai encontrando camadas de memória. Quando a gente faz o tombamento daquele local cria esse marco e dá outro patamar a essas histórias”, detalhou.

Imagem ilustrativa da imagem Uma referência arquitetônica e afetiva de Londrina
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

FAMÍLIA BENATTO

A família Benatto tem relação com o imóvel que abriga a Biblioteca Pública Municipal de Londrina antes mesmo da sua construção. No espaço havia uma quadra de tênis da Companhia de Terras Norte do Paraná, onde funcionários russos, alemães e ingleses jogavam. Omeletino Benatto, hoje com 91 anos, ajudava a recolher as bolas de tênis.

Tino, como é conhecido, relembrou que em 1938 ficava no gramado do lado de fora olhando o pessoal jogar tênis. “Eu tinha oito anos de idade e, quando a bola caía fora do cercado, pegava e jogava para dentro da quadra.” Ele revela que ele e seu irmão, na época com seis anos, coletavam as bolas dos tenistas e nem sabiam que seriam remunerados por isso. “A companhia era muito honesta. Um dia falaram para eu e meu irmão passarmos no escritório para receber o ordenado. Recebi 22 mil réis e meu irmão recebeu 20 mil réis. Naquela época era suficiente para comprar quase três arrobas de carne suína. Era muito dinheiro”, observou.

Mais tarde, na década 1950, ele frequentou o Fórum como testemunha em um caso. Já em 1981, a irmã de Tino, Oulevantina Benatto Cruz, 81, começou a trabalhar na biblioteca, que ainda funcionava na Casa da Criança (atual secretaria municipal de Cultura). Pouco tempo depois foi anunciada a mudança, para o prédio do antigo Fórum. “Quando anunciaram que a biblioteca iria mudar para o antigo Fórum ficamos contentes e felizes, porque a biblioteca antiga era muito pequena”, contou.

“Foi uma euforia entre os funcionários, que na época eram muitos", relatou. “Amarramos todos os livros, separando por prateleira. A mudança foi feita como se fôssemos formiguinhas, com uma corrente humana. Uma pessoa ia passando os livros para a outra pessoa. Foi trabalhoso, mas foi gostoso fazer essa mudança", narrou.

Segundo ela, a maioria dos móveis que ficava na Casa da Criança foi reaproveitada da biblioteca. que ficava na antiga Casa da Criança. “Eles compraram pouca coisa quando fizeram a mudança.”