Localizado na área central de Londrina, a agência dos Correios foi construída há mais de sete décadas e representa os anos de ouro do município. O registro do Ipac/Lda (Inventário e Proteção do Acervo Cultural de Londrina) aponta que o prédio foi ''um dos mais representativos na área central também pela beleza de suas formas arquitetônicas, escadas e balcões de mármore''. O segundo pavimento, onde estavam os telégrafos, era também ''a residência do chefe da agência''.

Imagem ilustrativa da imagem Um prédio dos anos de ouro de Londrina
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

O prédio foi projetado por Julio Botto de Barros e executado pelo engenheiro curitibano Félix Monteiro Guimarães, quando o órgão ainda pertencia ao DCT (Departamento dos Correios e Telégrafos). Segundo o professor de História da Arquitetura da Faculdade Anhembi Morumbi, Marcio Vinicius Reis, o "sistema de obras" que resultou no prédio dos Correios de Londrina foi criado em 1939, durante o governo Getúlio Vargas, para racionalizar os serviços públicos pelo órgão máximo do executivo.

O prédio foi concebido com três pavimentos e 1.100 metros quadrados de área - posteriormente, foi ampliado para 1.680 metros quadrados. Reis explica que o projeto foi desenvolvido como um padrão, adotado em outros municípios. O edifício era do tipo especial IX, como era conhecido internamente, e, além de Londrina, foi aplicado em agências como a de Campina Grande (PB), Marília (SP) e Bagé (RS).

Reis conta que esses edifícios eram pautados pelo recuo da experimentação formal latente nos projetos de linguagem art déco da década anterior- diga-se, formalmente bem aceitos. O jogo compositivo foi determinado pela volumetria cúbica acrescida da torre-relógio déco.

Segundo ele, a escolha do estilo art déco está relacionada à estética e monumentalidade requeridas para os edifícios públicos nascidos dentro de um contexto político autoritário, mas progressista. "Trata-se de uma arquitetura mais híbrida. Formalmente, os edifícios anteriores eram edifícios muito simples, um paralelepípedo pousado sobre o chão. A partir de Vargas, eles tiram partido do escalonamento e da geometrização de elementos simples. Não se vê ornamentos aplicados no edifício, mas há preocupação de dar certo dinamismo ao edifício. O prédio de Curitiba, por exemplo, possui elementos horizontais. No caso dos edifícios tipo IX, eles exploram aspecto da composição dos volumes e colocam elementos verticalizados", aponta.

"Foi um projeto importante para o desenvolvimento da arquitetura do Brasil. Ele se aproxima mais da arquitetura moderna corbusiana. O hibridismo entre art déco e o estilo neocolonial traz elementos tradicionais e é representativo da arquitetura do período entre guerras, tentando achar um caminho em direção ao moderno", destaca Reis. "É interessante analisar as agências como evolução do campo arquitetônico e do abandono de certas práticas correndo em direção da arquitetura moderna", analisa.

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| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

CONCRETO ARMADO

O professor Marcio Vinicius Reis destaca que um aspecto interessante é a racionalização construtiva utilizada na edificação dos Correios. Esse conceito foi implantado pelo Dasp (Departamento Administrativo do Serviço Público) a partir da crise de 1929. "O projeto também era uma adaptação aos terrenos de cada cidade. Sofria pequenas variações em função do relevo, mas deveria utilizar mão de obra local e comprar a matéria prima no comércio local", detalha. "O sistema construtivo utilizado foi o concreto armado, que era uma novidade. Ele permitiu que fossem implantados vãos maiores em detrimento das agências de projetos anteriores. De uma certa maneira, padronizaram alguns elementos dos edifícios, como o mesmo modelo de janelas", aponta.

Reis compara o projeto do tipo IX com os do tipo VII e VIII, implantados em Três Lagoas (MS), Governador Valadares (MG) e Porto União (SC). "Nessas agências, havia um pórtico enquadrando as aberturas. Era um edifício limpo, marcado pelo eixo de simetria. Quando vai para o tipo IX, percebe-se que essas pilastras não enquadram mais as aberturas. Esses vãos são formados por esquadrias do piso ao teto até a parte superior. Já é uma característica diferente das anteriores, um pouco mais moderna", enaltece.

OBRA LEVOU DOIS ANOS PARA SER CONCLUÍDA

A construção da sede dos Correios de Londrina teve início em 1947 e levou dois anos para ficar pronta, quando o presidente já era Eurico Gaspar Dutra. Na inauguração, em julho de 1949, estiveram presentes o diretor regional do DCT, Antônio Corrêa de Miranda Évora; Tharlê Filho, representante do diretor geral dos Correios e Telégrafos; e o delegado regional de Polícia, Edmundo Mercer Júnior, representando o governador do Estado, Moysés Lupion. Coube a Mercer Júnior a incumbência de descerrar a fita simbólica da inauguração.

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| Foto: Reprodução

Com o passar dos anos, o DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), vinculado ao Ministério da Viação e Obras Públicas, transformou-se na ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), em março de 1969. Curiosamente, um dos presidentes mais emblemáticos da ECT foi o coronel Adwaldo Cardoso Botto de Barros, filho de Julio Botto de Barros, que projetou o prédio dos Correios de Londrina. Ele dirigiu a estatal entre o final da década de 1970 e início da década de 1980. O coronel reestruturou a empresa com a consultoria do Correio Francês e foi responsável pela implantação de serviços como o Sedex.

Embora mantenha preservada as linhas externas de seu prédio, inclusive mantendo letreiro em art déco no topo da edificação, internamente muita coisa mudou. O novo padrão de layout agora possui fontes mais modernas e cores em azul e amarelo. Os balcões com grades metálicas foram substituídos por balcões simples, sem a divisória.

A ampla parede com caixas postais, que ficava logo na entrada do prédio, hoje ocupa o local onde antes ficavam os antigos balcões. Há hoje ampla área envidraçada. Do início de suas atividades restam poucos elementos na área interna e eles não ficam expostos aos clientes, como a placa de inauguração do prédio, que hoje está em uma área de acesso restrito aos funcionários.

DA PREFEITURA

O terreno dos Correios foi doado pela prefeitura. Inicialmente, a área havia sido doada para o Grêmio Literário e Recreativo Londrinense e o terreno destinado aos Correios ficava na alameda Manoel Ribas, mas como o projeto elaborado pelo governo para o serviço postal era adequado para implantação em esquinas, houve a troca.