Pense em um espaço voltado para o acolhimento de crianças e adolescentes vítimas de violência ou negligência com grades sem cor, paredes sem vida e camas de concreto. Agora imagine o mesmo espaço com um portal de boas-vindas, frases carinhosas nas paredes, objetos coloridos, um cantinho de brinquedos, uma cozinha confortável e camas de verdade.

A MMA Casa Lar já recebeu parte da pintura, limpeza e pequenas reformas; voluntários seguem arrecadando materiais
A MMA Casa Lar já recebeu parte da pintura, limpeza e pequenas reformas; voluntários seguem arrecadando materiais | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

É por essa transformação que jovens voluntários do projeto Atitude estão trabalhando nos últimos meses. A ideia é mudar totalmente o cenário que meninos e meninas encontram ao chegar ao MMA (Ministério de Missões e Adoração) Casa Lar em Londrina, um lugar onde irão conviver por alguns dias, meses e, em alguns casos, até completarem 18 anos.

“A casa que estamos é cedida pela prefeitura e estava muito tempo sem manutenção. O dinheiro nunca é suficiente para tudo o que precisamos. A gente tem o repasse municipal, mas é para cobrir a folha de pagamento e despesas básicas. Neste ano, conseguimos uma reforma na casa com nova pintura e alguns móveis, via secretaria de Assistência Social, mas também ficamos sabendo do projeto Atitude, fizemos contato e a causa foi abraçada”, explica Deise Saito, psicóloga e coordenadora da Casa Lar.

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

O projeto Atitude tem como objetivo envolver adolescentes do Colégio St. James em trabalhos de empreendedorismo social. Atualmente, são mais de dez alunos participantes, além de dois líderes. “É muito bom saber que você vai transformar não só um lar, mas também a vida de pessoas que, além de tiradas de suas famílias, não tiveram a mesma oportunidade que eu. Muitas vezes, um lar é tudo o que eles precisam no momento. Este trabalho está sendo muito intenso e inspirador. Ver a felicidade deles nos motiva a cada dia", comenta Luana Costa Canziani Silveira, que atua com a colega Isadora Felipe.

Sharmila Costa, arquiteta, com a filha Luana e sua amiga  Isadora Felipe:  desenho dos ambientes e confecção dos objetos de decoração
Sharmila Costa, arquiteta, com a filha Luana e sua amiga Isadora Felipe: desenho dos ambientes e confecção dos objetos de decoração | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Os alunos voluntários desenvolvem uma série de ações ao longo do ano e recebem um certificado com validação internacional. A arquiteta e artesã Sharmila Costa é mãe de Silveira e acabou se envolvendo na ação da Casa Lar. Ela está desenhando novas cores para os ambientes e criando peças de decoração junto com os alunos. “Veio a ideia de ir um pouco além de arrecadar materiais e doar. A ideia é dar uma alegrada e organizada no espaço para que ele seja realmente acolhedor”, comenta a arquiteta.

De acordo com ela, todas as interferências, como objetos de decoração, tapetes, cortinas e quadros, estão acontecendo no conceito de "faça você mesmo” e as crianças e adolescentes da Casa também participam. “Já era para estar bem encaminhando, mas com a quarentena (por causa da pandemia do coronavírus), estamos fazendo a distância, nos comunicando com vídeos. Definimos as cores a distância com a empresa, por catálogo. E o que está acontecendo de resultado é aquilo que sempre acreditei muito: ver a decoração interferir positivamente no resgate de pessoas”, diz.

O projeto arquitetônico foi desenvolvido dentro de possibilidades que fossem exequíveis, com materiais que os voluntários conseguissem angariar. “Ele é bastante interativo, onde trabalhamos a decoração afetiva, o feng shui, a harmonização. As crianças que são tiradas de uma situação de risco estavam chegando em um lugar sem cor, sem reforma, então a gente se colocou na posição delas e pensamos em um lugar de esperança, onde elas são bem-vindas, acolhidas, amadas e possam lembrar de coisas boas”, afirma.

BRIDGE

Mãe e filha também estão à frente do Projeto Bridge, que vem realizando diversas ações de impacto social positivo, entre elas a comercialização de produtos sustentáveis, onde parte da renda é revertida para trabalhos sociais, além da capacitação de mão de obra de artesãos da região, visando a qualificação e renda.

'É ESSENCIAL'

O acolhimento institucional para crianças e adolescentes em desproteção dispõe de duas casas lares em Londrina, com dez vagas cada, além do Nuselon (Núcleo Social Evangélico de Londrina) e do Lar Anália Franco. Atualmente, a MMA (Ministério de Missões e Adoração) Casa Lar está com 15 acolhidos.

“São meninos e meninas encaminhados pelo Conselho Tutelar ou Vara da Infância. O acolhimento deve ser sempre provisório, pois o ideal é o retorno familiar de origem ou extensa, ou mesmo a adoção, mas alguns casos infelizmente, acabam ficando por muito mais tempo”, comenta Deise Saito, psicóloga e coordenadora da Casa Lar.

Ela lembra que a alguns ambientes tinham muitas pichações e explica que isso é também uma forma de apropriação do espaço por parte dos adolescentes. “Muitas vezes, eles são retirados de suas casas e, por mais simples que seja, é a história deles. Ter um espaço mais acolhedor e que pareça uma casa é essencial para que eles se sintam parte dela. E, ao se envolverem nas ações do projeto, eles se sentem parte do processo, agem com mais respeito e acabam cuidando tudo de uma forma bem melhor também”, afirma.

A MMA Casa Lar já recebeu parte da pintura, limpeza e pequenas reformas. O projeto Atitude segue arrecadando materiais como de itens de construção, tintas de parede e pistola, móveis, material de artesanato, produtos de empresa de comunicação visual e sinalização, tecidos, aviamentos e paisagismo.

SERVIÇO: Os interessados em ajudar podem fazer contato pelo perfil do projeto no Instagram @atitude.esa.