As situações de risco para a disseminação do novo coronavírus em todo o Estado vêm sendo traçadas em um mapa desenvolvido pelo Laboclima (Laboratório de Climatologia) da UFPR (Universidade Federal do Paraná). As análises consideram basicamente a temperatura e a umidade relativa do ar em cada região paranaense, de acordo com os dados meteorológicos do Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), para apresentar os níveis de alerta, tanto para a população quanto para a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde).

Em todo o Estado o alerta tem ficado entre alto e médio; resultados são gerados semanalmente com foco na prevenção
Em todo o Estado o alerta tem ficado entre alto e médio; resultados são gerados semanalmente com foco na prevenção | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Os parâmetros usados para a criação dos índices foram definidos a partir de estudos internacionais desta pandemia e também de anteriores com padrão similar de disseminação, como o H1N1. Tais limiares retratam exclusivamente a suscetibilidade à infecção por Sars-CoV-2, não considerando neste sistema os padrões sociais de contato, aglomeração, circulação e transmissão do vírus.

ALTO E MÉDIO

Em todo o Estado, inclusive na região Norte, o alerta tem ficado entre alto e médio (na cor ocre), o que significa que os parâmetros climáticos são mais favoráveis à disseminação da doença pela presença do vírus em superfícies e no ar, aumentando o risco de contágio entre as pessoas.

“Se nosso inverno estivesse dentro do normal, ou seja, mais frio e seco, a propagação do vírus poderia estar sendo muito maior. Até hoje temos tido predominância de alerta climático de médio até alto, mas a escala vai até muito alto e ainda não atingimos esse nível porque o clima está mais quente e mais seco que o habitual”, pontuou o professor Wilson Roseghini, do Departamento de Geografia da UFPR.

Ele é um dos coordenadores do Laboclima e explica que o Sacer (Sistema de Alerta Climático para Enfermidades Respiratórias) tem gerado os resultados semanalmente com foco na prevenção. “É uma ferramenta para que o governo estadual direcione as políticas públicas, como a ampliação do número de leitos e medidas mais rígidas de isolamento, assim como informações para a população em geral”, detalha.

Desde o fim de maio, os mapas indicam que as áreas com alertas mais elevados abrangem as cidades de Curitiba, Ponta Grossa (Campos Gerais), Londrina, Cascavel (Oeste), Francisco Beltrão e Pato Branco (Sudoeste) e Guarapuava (Centro).

ALGORITMOS

Para fazer uma relação do clima com a doença, o Sacer (Sistema de Alerta Climático para Enfermidades Respiratórias) gera, através de algoritmos, um índice de alerta relacionado ao clima. O professor Wilson Roseghini detalha que o nível baixo (de alerta no mapa) é caracterizado com temperaturas acima de 27°C e com umidade relativa do ar abaixo de 25% e acima de 90%. De acordo com os cientistas, o clima mais favorável à propagação do vírus é o subtropical, com temperaturas amenas — características do inverno em Curitiba.

“Muitos estudos internacionais concordam que temperatura baixa e umidade baixa são mais favoráveis. A explicação é de que com umidade alta existem mais gotículas de água em suspensão, aumentando a chance de elas colidirem, ficarem maiores, mais pesadas e precipitarem, ficando depositadas nas superfícies. Já com ar mais seco e menos gotas microscópicas, o vírus conseguiria ficar mais tempo em suspensão, podendo ser carregado para mais locais”, explica.

De acordo com o pesquisador, desde o início de abril, quando o sistema começou a gerar os mapas, as semanas do dia 24 a 30 de maio, 05 a 11 de julho e de 12 a 18 de julho foram as mais preocupantes até o momento, revelando níveis mais altos para contágio. “Desde o início o nível mais alto vêm predominando nas regiões mais frias. Percebemos uma persistência maior no Centro e Sul do Estado, como as regiões de Pato Branco, Cascavel, Cianorte, Campo Mourão, Apucarana, Ponta Grossa e Curitiba”, avalia.

MODO DE VIDA

O pesquisador Wilson Roseghini ressalta que o mais importante em relação ao clima é a influência que ele tem no modo de vida da população.Como exemplo, ele cita que em dias mais frios a população tende a se aglomerar mais em ambientes fechados, assim como as janelas do transporte coletivo são mantidas fechadas, favorecendo a propagação do vírus. Vale lembrar que um alerta climático de nível baixo não anula de forma alguma a ameaça que o vírus representa, porque ele continua circulando em certos ambientes.

“Quando as pessoas seguem corretamente o isolamento, o clima fica em segundo plano. Nós é que temos o papel de definir o impacto desses níveis a partir dos cuidados de higiene e isolamento”, afirma. O pesquisador reforça que a ideia principal do Sacer é a prevenção.

“É tentar antever a situação que pode causar problemas. Quando a Sesa vê no nosso mapa que algumas regionais de saúde estão com alertas altos é disparado um boletim para direcionar ações conjuntas como o monitoramento de UTIs disponíveis e medidas de segurança, mas o nosso comportamento é que vai ditar a regra”,destaca. (Com Sucom/UFPR)