Imagem ilustrativa da imagem UFPR confirma Sars-Cov-2 em dois cães de Curitiba
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Curitiba - A UFPR (Universidade Federal do Paraná) divulgou na manhã desta segunda-feira (23) que confirmou a presença de Sars-Cov-2 em dois cães de Curitiba na última semana: um da raça buldogue francês e um sem raça definida. Segundo a instituição, são os primeiros casos identificados no Brasil, junto ao estudo multicêntrico coordenado pela UFPR, que irá examinar amostras de cães e gatos em seis capitais.

O primeiro caso foi de um macho, adulto, raça Bulldog Francês, cujo tutor, de Curitiba, testou positivo para Sars-Cov-2 no RT-PCR na última semana, sem saber onde se infectou. Ele contou à equipe de pesquisa que percebeu uma discreta secreção nasal no cão, que dorme na mesma cama que ele. Num segundo teste, o tutor negativou, mas o cão estava positivo, já com uma quantidade pequena de vírus no organismo. No segundo teste realizado com o buldogue no dia seguinte, o animal também negativou.

O segundo caso foi de um cão macho, adulto, sem raça definida, cuja tutora também testou positivo. Segundo seu relato à equipe de pesquisa, seus quatro cães, que dormem na cama com ela, tiveram discretos episódios de espirros. Todos os moradores humanos da casa testaram positivo e, dentre os quatro cães, apenas um confirmou a presença do vírus.

Segundo o professor Alexander Biondo, coordenador do estudo, estes dados serão registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Todas as amostras estão sendo enviadas para confirmação no Tecsa Laboratório Animal, para que sejam testadas em outro laboratório de referência.

Apesar dos primeiros resultados positivos, não existem casos confirmados de cães e gatos transmissores do vírus ou com registro da doença Covid-19. De acordo com Biondo, os animais podem se infectar pelo vírus Sars-Cov-2, inclusive cães e gatos, mas isso não se equivale a dizer que eles têm a doença ou são transmissores.

Segundo estudos já publicados, gatos podem se infectar e transmitir para outros gatos, mas não há dados para cães. O professor ainda reforça que o contato mais íntimo entre humanos e pets pode infectar os bichinhos, sendo indicado o distanciamento e o uso de máscara em caso de confirmação para tutores que testarem positivo.

GATA DE CUIABÁ

No último mês, a equipe da UFPR já havia contribuído com a identificação da presença do vírus em uma gatinha de Cuiabá, detectada pela Universidade Federal do Mato Grosso. A confirmação foi no Laboratório do Departamento de Genética da UFPR, com coordenação institucional do professor Emanuel Maltempi. No teste de RT-qPCR , a presença do RNA viral foi verificada no animal de Cuiabá.

Agora, os cientistas trabalham no sequenciamento do genoma do vírus encontrado na felina e no seu tutor. No sequenciamento, será possível determinar a ordem exata dos nucleotídios do RNA genômico do vírus. " Vai servir para confirmar que é o SARS CoV-2, pois a RT-qPCR identifica só um pedaço do genoma, mas também qual a estirpe ou cepa. Poderemos saber de onde veio", explica Maltempi.

De acordo com Maltempi, uma hipótese é que só uma estirpe de vírus possa infectar animais. O sequenciamento poderá contribuir com respostas às perguntas que já vêm sendo traçadas nas pesquisas de Biondo, que, com um grupo de outros cientistas, publicou recentemente uma revisão sobre o panorama acerca da contaminação animal por Sars-CoV-2 no mundo.

AVALIAÇÃO

O projeto em andamento coordenado pela UFPR será realizado em Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Recife (PE), São Paulo (SP) e Cuiabá (MT). Serão dois momentos de avaliação, com amostras biológicas coletadas com intervalo médio de sete dias, entre animais cujo tutor esteja em isolamento domiciliar, com diagnóstico laboratorial confirmado por RT-qPCR ou resposta imunológica apenas por IgM.

Em Curitiba, uma equipe de pesquisadores fará a coleta em domicílio. Caso necessário, o trabalho também poderá ser feito no Hospital Veterinário. “Se possível, também coletaremos sangue para realizar a sorologia”, explica Biondo, reforçando que “o estudo pode dar resposta definitiva sobre a susceptibilidade e o papel de cães e gatos como reservatórios do vírus”. (Com informações da UFPR)