A escassez de EPI (Equipamento de Proteção Individual) no mercado mundial fez surgir iniciativas para suprir quem mais precisa dessas ferramentas nesse momento: os profissionais de saúde. Diante da dificuldade, projeto da UEL (Universidade Estadual de Londrina) conseguiu desenvolver um modelo específico de máscaras de alta proteção, agilidade de produção e baixo custo para ajudar a abastecer o HU (Hospital Universitário) de Londrina. Com apoio das indústrias, voluntários e de detentos da PEL I (Penitenciária Estadual de Londrina), serão entregues 15 mil unidades ao hospital.

Máscara Azul-A98 é resultado da parceria entre os departamentos de design de moda e enfermagem: teste em mais de 100 formatos de rosto
Máscara Azul-A98 é resultado da parceria entre os departamentos de design de moda e enfermagem: teste em mais de 100 formatos de rosto | Foto: HU/UEL/Divulgação

A máscara Azul-A98 é resultado da parceria entre os departamentos de design de moda e enfermagem, da UEL. “A reitoria buscou o curso de design de moda para verificar a possibilidade de ajudarmos a suprir a necessidade de máscaras do HU. Como a enfermagem tem um projeto que estuda o SMS (um tecido-não-tecido de uso hospitalar), entramos em contato e buscamos essa parceria, que viabilizou o tecido para a gente”, explica Valdirene Vieira Nunes, professora do departamento de design de moda da UEL.

No início, foram fabricadas quatro mil máscaras no modelo tradicional, mas foi verificada a necessidade de desenvolver um novo modelo. Quatro professoras da área de modelagem passaram a realizar pesquisa e a equipe de enfermagem auxiliou com os testes. “Chegamos a esse novo modelo, que não existia. Intitulamos como Máscara Azul-A98, porque tem uma vedação comprovada em laboratório e regulamentada, com 98% de vedação”, afirma.

ESTIMATIVA DE CONSUMO

A professora do departamento de enfermagem, Danielly Negrão, contou que o HU tem uma estimativa de consumo diário de três mil máscaras cirúrgicas e que essas unidades serão utilizadas por profissionais dos vários setores de atendimento do hospital. “São máscaras de alta proteção, descartáveis, de uso único, a indicação é para profissionais de saúde que estão atuando dentro do ambiente hospitalar, mas não necessariamente onde tenha um paciente portador de Covid-19, porque nesses casos são utilizados um respirador”, explica.

No entanto, essas máscaras tornarão os ambientes de atendimento hospitalar mais seguro aos profissionais, que precisam lidar com diversidade de pacientes. "Nós indicamos o uso dela nos setores onde existe maior circulação de pessoas, um risco maior de possível contaminação de pacientes assintomáticos, como pronto-socorro, centro cirúrgico, unidade de internação, central de material, que possa ser utilizada dessa forma”, comenta Negrão.

TESTADA E VALIDADA

A máscara foi testada e validada pela ABNT 14.783, garantindo eficiência de filtração de partículas acima de 98% e barreira microbiológica acima de 95%. O modelo consiste em uma máscara dupla, com maior proteção e melhor encaixe no rosto para otimização da vedação. “Foram testados em mais de 100 formatos de rosto para chegar a esse modelo, onde é possível ajustar por meio das tiras laterais”, indica. A professora de enfermagem também explica que a filtração d a peça desenvolvida é maior que as máscaras vendidas atualmente no mercado, que é feita de TNT comum.

PRODUÇÃO A TODO VAPOR

Além das vantagens de proteção, nesse momento de crise, foi preciso pensar em um modelo que tivesse agilidade na elaboração e mais barata que a do mercado atual. O resultado foi uma peça que leva aproximadamente 5 minutos para ser produzida e baixo custo, o material para cada unidade custa em torno de R$ 0,20.

Com apoio das indústrias, serão confeccionadas 15 mil unidades. O corte do material será realizado pela Cris Jeans, de Cambé, e costura e finalização serão compartilhadas pelas empresas Di Hoffman e Santa Seta.

Além de voluntários que detinham maquinário e se dispuseram a ajudar, também foi realizado acordo com a PEL I (Penitenciária Estadual de Londrina) para contar com a mão de obra dos detentos. “Aceitamos a parceria por entender a necessidade do momento com a falta de EPI com a pandemia, sabemos que temos essa responsabilidade e podemos fazer algo para colaborar. O próprio preso tem vontade de ajudar e de se sentir útil”, afirma o diretor da PEL I, André Fabiano Dea.

Atualmente, 14 detentos trabalham em projetos de confecção de máscaras, não só para o HU, como para todas as forças de segurança do Estado e para a Santa Casa de Londrina. Antes do início de produção para o HU, as professoras do projeto promoveram treinamento com os participantes.

Dea explica que a cada três dias trabalhados na confecção, o detento diminui um dia da pena, porém cita outros benefícios. “Trabalhando ele se sente útil e ocupa sua mente, ainda mais neste momento que a visita está suspensa para evitar o contágio dentro da unidade e o isolamento social alcance seu objetivo”, afirma.

COMPARTILHAMENTO

Com o novo modelo, surgiram vários hospitais interessados. Sem capacidade de produção, a equipe de pesquisa e desenvolvimento compartilha o projeto para que seja replicado em outros locais. “Nós tivemos vários contatos de hospitais de outras localidades que vão replicar o processo, como em Campinas (SP), por exemplo. Não conseguimos abastecer, mas enviamos tudo para que cada um, dentro da sua capacidade, possa produzir”, indica Valdirene Vieira Nunes, professora do departamento de design de moda da UEL. Todo o processo de produção, com moldes e projeto, foram disponibilizados no site: www.uelcontracoronavirus.com/masc-azul.

Para a professora, poder compartilhar a pesquisa é algo prazeroso. “O projeto é desenvolvido dentro da instituição pública, é prazeroso fazer parte, porque realmente estamos desempenhando a função, de devolver para a sociedade. Eu sinto muita gratidão em poder contribuir, em fazer valer a nossa real missão como pesquisadores de uma instituição pública”, defende.