Correspondendo à sugestão levada ao Congresso por Cincinato da Silva Braga (político, advogado e delegado do Brasil em organismos internacionais), os ingleses pretendiam atingir Guaíra, no bojo de um projeto maior que seria a Ferrovia Santos-Assunção. O acervo resgatado em Ourinhos revela que eles já tinham ''orçamento das despesas prováveis'' para a construção do trecho Rolândia-Lovat (Mandaguari), de 64 quilômetros: 9,5 mil contos de réis, dos quais 5,2 mil em importações (trilhos e acessórios CIF-Santos).
A Folha da Manhã de 25 de junho de 1939 informou que os ministros das Relações Exteriores do Brasil e do Paraguai, Osvaldo Aranha e Luiz Riart, reunidos no Rio de Janeiro, assinaram acordo estabelecendo a construção de ferrovias de integração em suas fronteiras. Em primeiro plano, a Campo Grande-Ponta Porã no ramal de Bela Vista, em Mato Grosso; e a de Concépcion-Burqueta até Pedro Juan Caballero, com um sub-ramal até Bela Vista.
Outra previsão no acordo: o Brasil construiria a ferrovia Rolândia-Guaíra, no Paraná; e o Paraguai, a ferrovia Assunção-Guaíra.
Entretanto, os ingleses não foram além de Apucarana. Concluíram 270 quilômetros, ao custo de 100 milhões de cruzeiros, participando o Governo do Paraná com o subsídio de 28.800 cruzeiros/km, informou o engenheiro Aristides de Souza Mello em 1944 (palestra no Rotary Club de Londrina).
''O governo ditatorial começou a deter-nos'', segundo João Sampaio, numa referência ao presidente da República, Getúlio Vargas. Em 1944, eles venderam a ferrovia, que prosseguiria morosamente, até parar em Cianorte, aonde chegou só em 1972 e ''não teve papel relevante'', porque o Norte Novíssimo se desenvolvera sem ela e já dispunha de ''meios mais eficazes para viagem e escoamento'', afirmam historiadores (''Cianorte, sua história contada pelos pioneiros'', 1995).
Cianorte, endereço telegráfico da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) com o advento da ferrovia, depois nome da cidade fundada em 1953 pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Coincidentemente, ponto final da estrada de ferro, na Avenida Pará, onde o asfalto encobre os últimos metros de trilhos. O tráfego ferroviário cessou e a estação foi transformada em centro cultural, onde o secretário Oscar Boeing, filho de um dos fundadores da cidade, dá aulas de história e funcionam academias de balé e de música. (WS)