Trabalhadores do transporte coletivo paralisaram as atividades em Londrina em razão do atraso no pagamento de parte dos salários. Cerca de 200 funcionários da TCGL (Transportes Coletivos Grande Londrina) deram início à mobilização por volta das 4h30 desta sexta-feira (23). Os ônibus permaneceram na garagem da empresa. A TCGL é responsável pela execução de 65% do serviço em Londrina. Milhares de usuários ficaram sem o transporte público durante a manhã.

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. | Foto: Viviani Costa/Grupo Folha

O presidente do Sinttrol (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Londrina), João Batista da Silva, destacou que os motoristas recebem salários de R$ 2.807. Segundo ele, os funcionários e o sindicato não receberam comunicados oficiais ou explicações da empresa para justificar o atraso.

“Os trabalhadores têm seus compromissos, têm aluguel, têm conta de luz, enfim, conta de água, cartão de crédito que está passando do limite e os trabalhadores não suportaram mais", comentou. A TCGL possui, aproximadamente, 700 funcionários.

Conforme o presidente do sindicato, o salário costumava ser pago em duas parcelas, sendo 50% no quinto dia útil e 50% em torno do dia 20 de cada mês. No entanto, a empresa ainda teria negociado o pagamento parcial da segunda metade do salário.

“Até prometeram pagar pela metade do vale ontem, dia 22. O diretor da empresa disse que não conseguiram linha de crédito bancário para honrar esse compromisso a tempo de ser depositado ontem, disse que a perspectiva é que isso ocorra hoje, mas só 50% do valor do vale. Os outros os outros 50% seriam, segundo ele, pagos no dia 30. E aí o pagamento do restante fica para o quinto dia útil de novembro", afirmou.

“Sem o vale [adiantamento de salário] complica né. Dizem que faz tempo que a empresa quer cortar esse vale. Só que, se for cortar esse vale, o ideal seria avisar a gente com antecedência, no mínimo dois meses antes, para a gente ter um controle porque muitas das contas da gente estão programadas para esse vale”, contou um motorista que preferiu não ser identificado.

Os trabalhadores permaneceram em frente à garagem da empresa durante a manhã. As linhas de ônibus administradas pela empresa Londrisul, responsável por 35% do serviço público em Londrina, circularam normalmente. Veículos extras e funcionários foram convocados para atender parte dos usuários prejudicada pela paralisação.

Os funcionários da empresa TIL, que realiza o transporte metropolitano para Cambé e Ibiporã, também protestaram pelo mesmo motivo e os ônibus não circularam.

Em nota, as empresas TCGL e TIL, que fazem parte do mesmo grupo, alegaram “desequilíbrio econômico e financeiro” e que a pandemia reduziu o número de usuários no transporte coletivo. “As despesas não puderam ser reduzidas na mesma proporção”. A TCGL solicitou ao município “providências emergenciais” em razão da pandemia, mas não foi atendida. Nesta quarta-feira, representantes da empresa reivindicaram, por meio de ofício, a realização de uma audiência com a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) para discutir medidas para o reequilíbrio financeiro. Já a TIL informou que tenta negociação com o DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem), responsável pelo transporte metropolitano, para garantir o reequilíbrio das contas.

Em entrevista coletiva, o diretor de transportes da CMTU, Wilson de Jesus, lamentou que a população e o próprio poder público não tenham sido informados com antecedência da possibilidade de paralisação. Ele lembrou que a legislação prevê que ambos sejam informados com 72 horas de antecedência, o que não ocorreu. O prazo é estipulado por se tratar da prestação de um serviço considerado essencial.

Jesus ressaltou ainda que um diretor da TCGL chegou a ser recebido nesta semana na CMTU. Em nenhum momento, o representante da empresa teria mencionado a possibilidade de atraso nos pagamentos.

“A TIL é regida pela prefeitura? Não. Ela está paralisada como a TCGL? Está. [...] Londrina tem quantas empresas que operam o transporte coletivo urbano? Duas. A outra está operando? Sim. O salário dos funcionários caíram? Sim. Então não é esse o problema. [...] Me parece que a empresa precisa rever um pouco a situação administrativa dela. Uma vez que não é só a TCGL que está dizendo que está com esse problema. Uma outra empresa do grupo, que não tem vínculo com Londrina, está paralisada nas mesmas condições”, frisou.

Em maio, representantes da TCGL chegaram a pedir ao município um aporte financeiro de cerca de R$ 12 milhões. A prefeitura, no entanto, afirmou que os investimentos seriam concentrados na área da saúde.

Desde o início da manifestação, a CMTU busca intermediar um consenso entre a empresa e o sindicato. “Estamos pedindo que cada um faça uma concessão para que a população seja respeitada no direito de utilizar um serviço essencial”, explicou o diretor de transportes.

A CMTU notificou a TCGL pela interrupção na prestação dos serviços. A Companhia vai analisar possíveis punições à empresa.

(Atualizada às 13h48)